O modelo sueco de luta contra a pandemia, que basicamente não é coisa nenhuma, transformou-se, de repente, para os que não querem pensar em novos confinamentos, numa decisão sanitária exemplar, inovadora, e com resultados excecionais. Era bom, mas não passa de uma mentira. De um mito rural e urbano. De uma fantasia perigosa. Nada como ver os números.
A Suécia é geograficamente o terceiro maior país da Europa, e tem genericamente o mesmo número de habitantes que Portugal. Pouco mais de 10 milhões. Logo aqui um pormenor essencial: a nossa densidade populacional é de 115 pessoas por km2, e a da Suécia não passa de 23. Ou seja, país muito grande, mas sem população. Maior dificuldade, supostamente, na propagação do vírus. Também não é verdade, mas já lá vamos.
Qual foi a revolução sueca no combate e controlo da pandemia? Nenhuma. Passividade absoluta. O fundamento político e sanitário baseou-se na seguinte teoria, que passou à prática: o vírus anula-se com a imunidade de grupo. Quantos mais contagiados melhor, e quando esse número atingir uma determinada percentagem, a população está imunizada. Isto era a realidade da Idade Média. Acrescente-se, já agora, que a imunidade de grupo, dependendo do vírus, atinge-se quando 85 a 95% da população já tiver sido “tocada” pelo vírus. O modelo, por isso, é simples. Simplório.
E o resultado? Quais são os números da Suécia, quando comparados com os de Portugal? Menor densidade, país muito grande, contágio mais difícil. São maus, péssimos. Há quase 90 mil suecos contagiados e, obviamente, um número muito elevado de mortes: quase 6 mil. Dito isto, desfazendo este mito, percebe-se rapidamente em que situação estaria Portugal se tivesse seguido a mesma loucura. E sempre pior para nós, porque somos 10 milhões atafulhados num pequeno retângulo, com 200 quilómetros de largura.
Acrescente-se, já agora, que a fabulosa Suécia também está a ter uma subida de contágios nesta fase, e que pondera seriamente impor restrições nas cidades, incluindo Estocolmo. Afinal não há milagre. É apenas um exemplo de como progride e mata o SARS-CoV2, num país sem restrições.