Na terça-feira da próxima semana vai acontecer o primeiro debate presidencial nos EUA. E esse é o palco adorado por Trump. Foi assim que dizimou os seus adversários nas primárias republicanas de 2016, e que deixou Hillary baralhada e incapaz de conter o atual presidente. Trump sabe que precisa de recuperar pontos em estados vitais para as eleições, e, neste momento, tem duas cartas que quer jogar rapidamente.
Para Trump um debate é um género de circo sem regras. Fala, interfere, critica os jornalistas, desestabiliza o adversário, não respeita as réplicas, e deixa qualquer um sem fôlego. Ou Biden está a estudar todas essas manhas, e a possibilidade de as anular, ou o encontro, desta vez muito esperado, poderá transformar-se num desastre para o democrata. É dificílimo, quase impossível, conter a verborreia (muitas palavras e poucas ideias) de Trump. Dispara para todos os lados, diz tudo o que lhe vem à cabeça, e onde está presente, incluindo a Casa Branca, instala o caos.
Diga-se, em boa verdade, que se fosse possível, Biden não deveria aceitar. Mas é impossível. Os debates são uma obrigação política, e quem não aparece é porque tem medo. E medo é o que a equipa de Biden deve ter. Falta uma semana e tudo pode acontecer.
A outra carta de Trump é a nomeação de mais um Juiz para o Supremo. Mais um SCOTUS, como os americanos gostam de dizer e escrever (adoram acrónimos: POTUS, FLOTUS, SCOTUS, CIA, NSA, DIA, DoD, CinC). A morte de Ruthe Ginsburg, uma juiza notável, todos admitem, incluindo o presidente, abre a possibilidade de a maioria dos juízes do Supremo ter sido nomeada por republicanos, ou seja 6 dos 9 juízes. Já há uma guerra política completamente polarizada, com Biden a dizer que nesta fase Trump não pode, ou não deve, nomear ninguém. Mas pode e já disse que vai ser uma mulher, e já reduziu a lista a 5 possíveis escolhas. Tudo depende do Senado, que aprova ou não, e é republicano.
Trump acha que isso o vai ajudar numa batalha jurídica eleitoral, em que a última palavra, e definitiva, será do Supremo. Há, contudo, um pequeno e decisivo pormenor, que baralha essas contas: os SCOTUS são nomeadas para a vida, e isso faz toda a diferença. Quem é escolhido, independentemente de ter sido indicado por presidente democrata ou republicano, torna-se assético, distante, e não pressionável. Está ali para interpretar e fazer respeitar a Constituição e as Leis dos EUA. Até querer. Até morrer. Não presta contas a ninguém. Por isso, nomear agora ou depois deveria ser indiferente, mas sempre resultou numa guerra política em Washington. É como se fosse um caso de vida ou morte. Todas as paixões políticas são exacerbadas, multiplicadas, enfurecidas. É do que gosta Trump.