Se acho que a historieta do Benfica não tem dignidade para ser um tema entre o Presidente da República (PR) e o primeiro-ministro (PM), na habitual reunião de quinta-feira, já entendo que a intensificação da Covid-19 merece o tempo que for necessário. O Presidente tem de fazer, ou já fez, uma pergunta fundamental ao primeiro-ministro: qual é o número de contágios diários, ou o patamar, a partir do qual temos de voltar tomar medidas de emergência?
Isto sim, é um problema crítico para a saúde dos portugueses. Tirem as vacinas da equação. Elas vão chegar, boas e eficazes, mas levarão meses até se ter uma cobertura nacional eficaz. Sem outro remédio, que não seja o confinamento – e estamos a fazer tudo ao contrário – os números de contagiados de hoje, destas semanas, já equivalem aos que serviram, e bem, para se decretar o estado de emergência.
Sabe-se, pelo que diz o PM, que metade de si vive preocupado com o vírus, e a outra com mais destruição das empresas, desemprego, e falta de dinheiro para o Estado. O que o PM faz é racionalizar a parte preocupante da Covid-19: sim os casos estão a subir muito, como em abril, os internamentos também, mas há menos mortes. O que quer isto dizer? É tudo aceitável enquanto as mortes se mantiverem num dígito?
O PM é o primeiro a saber que isso é um fator não controlável. Pelo contrário. Por agora, os internamentos têm um número relevante de pessoas mais novas, e por isso mais resistentes ao SARS-CoV-2, e o próprio desempenho dos hospitais, e experiência, e o uso medicamentos com alguma eficácia está a ajudar. Para além de maior disponibilidade nas UCI. É verdade, mas tudo isto tem um limite. E já estamos nesse limite: os mais jovens contagiarão os mais velhos – é o grande susto das escolas e da população que envolve – e os Hospitais estão na fronteira da rutura. Neste caso, muitos já ultrapassaram a sua capacidade.
A pergunta mantém-se, e será cada vez mais urgentemente colocada: qual é o número a partir do qual temos de voltar a encerrar? E qual é o nível de contágio a partir do qual o fator medo levará as pessoas, com ou sem decisão do Governo, a fecharem-se em casa? Um governo tem de ter uma resposta preparada para os dois cenários. Se não tem, não está a proteger-nos. Isto está cada vez mais perigoso, e o que ouvimos é “protejam-se, tenham cuidado, a responsabilidade é vossa”. Obrigado.