António Costa, sócio do Benfica, e mais 499 notáveis, e menos notáveis, estão na Comissão de Honra da candidatura de Luis Filipe Vieira à presidência do Benfica. Até aqui parece tudo normal, vulgar, habitual. Nada disso. Há uma indignação comovente nos media, comentadores, alguns líderes partidários, e um sem número de justicialistas de primeira água, e de última hora. Qual é o grande «crime» de António Costa, que também é primeiro-ministro? É por ser do Benfica? É por esse benfiquismo não ser fingido? É porque gosta do atual presidente e quer que ele seja reeleito? Deve ser por tudo e mais alguma coisa. Não dou para esse baile. E explico:
- A primeira ligação, a que parece provocar mais comoção, é o facto de Luís Filipe Vieira ser arguido. Mas está o homem julgado e transitado em alguma coisa? Bom, não, mas pode vir a ser, a estar, garantem os mais extremistas. Aqueles que acham que a Justiça não devia ser cega. É o primeiro pecado de Costa. Ele e mais 499 são amigos de um potencial autor de várias malandrices. E para os extremistas, as análises são simples. Se é, ou vai ser, eles também são. Serão. Poderão vir a ser. Isto não é só um pecado de Costa, também PM, mas dos 500.
- Os justicialistas, que agora adoram, agora, a delação, e por isso as medidas a ministra da Justiça, invocam um argumento terrível, uma violação inaceitável, um caso inadmissível: António Costa, adepto do Benfica, está a violar o código de conduta imposto por António Costa, chefe do Governo. Não há nada pior do que isto, dizem, juram, comentam. Vergonha. Será? Estamos a falar do mesmo código de conduta, o dos 150 euros? Ser da Comissão de Honra vale mais do isso? É uma função paga? Não, mas quem é da Comissão pode vir a receber «ofertas, convites ou outras facilidades na expetativa de uma contrapartida ou favorecimento»? Se isto é um argumento, então somos todos idiotas. É o princípio do crime por contágio. Se um é arguido, todos vão ser. Assim sendo os justicialistas são extremistas disfarçados.
- Por fim vem o argumento paroquial: não se pode misturar a política com o futebol profissional. É perigoso, é pior que o vírus, é indigno. A sério? Se fosse o ténis já podia ser? Ou o golfe? Ou os matraquilhos? António Costa já era do Benfica antes de ser PM, ou deputado, ou ministro, ou presidente da CML. Pesou-lhe? Sentiu-se oprimido? Deprimido? Angustiado? Tentado? A ser assim, o Benfica, o Sporting, o Porto e todos os outros ilustres clubes não podem ter sócios. Ou o contrário: não se pode exercer uma função pública, muito menos governamental, se for adepto, ou entusiasta, ou amigo de um clube, mas de futebol. Se fosse de praia não havia problema.
Não há pachorra. Não dá. Será que vivemos todos no mesmo país? Será que a tolice se sobrepõe aos dramas que vivemos? Ou por viver esses dramas ficámos mais tolos? Um género de 5 minutos para desopilar, espairecer, relaxar? Uma coisa eu sei, e é uma sorte para o PM: se fosse no tempo de Beria, os 500 já estavam executados.