Sexta feira começam as negociações para a nova geringonça, que será sempre muito diferente do engenho de há quatro anos. Começam com o Bloco de Esquerda, e depois com o PCP. Vão chegar a um entendimento? Vai mesmo fabricar-se essa nova obra? É bom não esquecer, até para as partes, que geringonça é sempre uma obra mal-amanhada, que pode ruir a qualquer momento. A primeira aguentou-se. Com esforço. Com um final muito atribulado. Mas manteve-se de pé.
Quais são os grandes obstáculos da segunda edição? Vamos ao princípio. O PS fez um esforço para repetir a dose, mas na circunstância estava muito inchado com os resultados eleitorais. Uma quase maioria. O PCP também anunciou que não estava disponível para um novo acordo, e o único a puxar pela carroça foi o Bloco de Esquerda. Nunca foi coisa nenhuma.
Entrámos em 2020, e o céu caiu em cima de nós. Do País, do mundo. Em escassos seis meses, o País está de pernas para o ar. A tentar sobreviver. A aguardar por dinheiro. A ganhar tempo. O défice explodiu, e o PIB afundou dois dígitos. Sozinho, sem maioria, o Governo precisa de ajuda e calma no Parlamento, nas ruas, nos sindicatos. Precisa também de novas ideias. De sugestões. De planos para não sufocar, como está a acontecer, as pessoas e as empresas. O Governo precisa urgentemente de injetar dinheiro na economia, garantir a 100 por cento novas linhas de crédito, rápidas e sem salamaleques, de aprovar planos universais longos e sem juros nem coimas para o Fisco e a Segurança Social, tipo Peres 2.0 mais alargado, se quiser aguentar o emprego, e de meter capital contingente em vário setores. É o remédio que falta, a vacina que ainda não apareceu.
Tudo isto tem de passar pela Assembleia da República, genericamente, e para isso há a necessidade urgente estar garantida a aprovação, rápida e sem grandes bloqueios. Depois vem o Orçamento para 2021, que vai ser mais uma desgraça nos pressupostos macroeconómicos, e lá para meados desse ano começa a chegar o dinheiro da União. Espera-se.
O Governo matutou, e muito rapidamente concluiu que tem de pedir ajuda ao BE e PCP. Ou só ao Bloco. Sem essa nova máquina não vamos longe. Já é visível agora. Está tudo em suspenso. Em confinamento político, económico e financeiro. O País não aguenta.
Há, contudo, um grande senão: o Governo do PS, entra nestas negociações numa posição de fraqueza. Ele é que é a noiva que precisa de casar. Como na história da Carochinha e do João Ratão. E isso percebeu logo o Bloco e o PCP. Por isso vão a jogo com condições prévias, usando o Quid Pro Quo. Isto por aquilo. É a vida. É o tempo. Tem de ser.