Não é brincadeira. Não dá sequer para brincar. Cheira que por algum tempo, a Procuradoria Geral da República (PGR) e a Polícia Judiciária (PJ), e sei lá quem mais, vai ter com que se coçar. O que não sabiam, nem adivinhavam, nem nunca lá chegariam, deve estar agora nas suas mãos. Empanturrados de segredos, de dados privados, de ligações impossíveis, as polícias, os procuradores e os juízes de instrução não devem saber por onde começar. Calcula-se. Deve ser pesado.
Como em qualquer outro país que percebe o valor que tem em mãos, a PGR, ou a PJ, ou o SIS, ou os três, juntinhos, deveriam contratar, avençar, pagar, para Rui Pinto trabalhar para eles. Em exclusividade.
Se fosse nos EUA, o hacker já estava na CIA ou na NSA, ou no novíssimo Cyber Command. E com autorização para entrar nos sistemas chineses, iranianos, russos, norte coreanos, e de alguns aliados europeus. É a vida deles. Travar ataques, e passar à ofensiva.
As capacidades, ou habilidades, de um Rui Pinto não são, por isso, desprezíveis. De todo. E isso deve ter sido notado nestes meses, em que decidiu colaborar com a PJ. Agora, na verdade, as questões que se colocam devem ser duas: como não o condenar, no julgamento que começa já em setembro, e de que forma o abordar, para esse trabalhinho avençado.
Não é fácil. Não é claro. Pela simples razão de o próprio terá acesso ilimitado aos segredos deles. É verdade que já tinha, mas não ilimitado, e legal. É uma decisão difícil, diga-se. Mas entre não ter nada, ou pouca coisa, e ter tudo, à discrição, tipo menu de restaurante, parece evidente a opção. Assim como assim, há uma grande vantagem: o hacker Rui Pinto passava a ser o agente especial Rui Pinto. Ou 007. Bond, James Bond.