50 mil contagiados. 5 dias antes do final do mês, altura em que achava, extrapolando, que chegaríamos lá, sem grande margem para errar. Mas, felizmente, ainda não atingimos os 2000 mortos. Sendo macabro, é o único sinal que engrandece as equipas dos hospitais. Tudo o resto é mau. Mais de 400 internados, em média, desde o início do desconfinamento total, e algumas dezenas, sempre, em cuidados intensivos. Esta estatística médica não mostra sinais de controlo, a grande ambição das autoridades sanitárias.
Está à vista – os números não mentem – que Portugal está entre os piores no ranking, e isso tem as consequências que sabemos. Logo de início, e para que ninguém se esqueça, ou tome isso como uma normalidade, os hospitais da região Lisboa e Vale do Tejo estão num esforço sem precedentes, com equipas no limite, salvando todos os dias dezenas de pessoas, com o que foram aprendendo com a pandemia, e usando alguns medicamentos que provaram ajudar a estabilizar.
Também é necessário esclarecer um dado vital: se os números se mantiverem nestes níveis, ou mesmo mais baixos, mas de facto nunca reduzidos a zero, então não há segundas vagas, mas a mesma, desde março, que pode subir com o outono/inverno. Tão simples quanto isto. Segundas vagas estão a ter agora outros países, pela simples razão que abriram, desconfinaram, e a Covid-19 nunca se deu por morta.
Já fizemos tudo, já fomos apressados e otimistas, mas haverá SARS-CoV-2 enquanto não existirem medicamentos direcionados, e vacinas eficazes. Não há forma de controlo, está dito e confirmado. Temos de viver com isso, sabe-se lá por quanto tempo.
Mas quem não está a viver, mas sim a morrer, são centenas ou milhares de pessoas, em todo o país, que sofrem de outros problemas médicos, graves e urgentes, para os quais não existe resposta ou capacidade do SNS. É triste. São doentes de segunda, esquecidos, relegados para uma lista infindável de adiáveis, e que vão morrendo lentamente, sem dó nem piedade. Seja como for, a pandemia mata muito mais do que apenas os doentes de SARS-CoV-2. É um efeito colateral, mas inaceitável. Tem de haver um plano de urgência. São mortes esquecidas, sem conferências de Imprensa, que atingem números nunca vistos.