Por mim, se não se importam, concordo inteiramente com o fim dos debates quinzenais na Assembleia da República (AR). Assim sendo, na polarização política habitual, não sou democrata, não gosto da AR, e tudo isto foi uma golpada dos socialistas e sociais democratas. É difícil discutir assim. Em qualquer dos casos convém explicar as razões pelas quais já há muito que não fazia nenhum sentido o modelo dos debates quinzenais.
Sempre foram uma grande chatice, para todos, mesmo que não reconheçam, por conveniência. E se não vale nada, se não conta, se não acrescenta coisa nenhuma, então terminem ou alterem o formato. É preciso lembrar que esta ideia fabulosa dos debates quinzenais tem muito poucos anos – não é propriamente uma grande marca da nossa história – e nasceram para tentar imitar, era disso que se tratava, os debates semanais no Parlamento britânico. Só que estes têm história, sempre foram assim, e na verdade, na maior parte das semanas, não passam de um fugaz momento mediático.
Acabando com os debates quinzenais, e passando a ser de dois em dois meses, afeta a qualidade da nossa democracia? Inibe a AR de controlar o Governo? Reduz a importância dos deputados? Insulta a nossa liberdade? Convenhamos que tudo isto é exagerado, abusivo, hiperbólico. Chá e bom senso.
Foi o Bloco Central que aprovou, e a indignação primária vem quase toda daí. Vergonha. Inadmissível. Isto só no país do Putin. Pois sim, e os deputados do PS e do PSD têm menos valor, ou contam só metade, do que todos os outros? Não têm a mesma legitimidade, porque são do Bloco Central (onde isso vai)? Vamos lá supor que todos os outros partidos, juntos, até tinham a maioria, e decidiam passar os debates para semanais. Todas as quintas-feiras, já agora. Isso era antidemocrático? Isso insultava os que não queriam?
O básico é sempre simples: os deputados, em maioria, decidem e decidirão sempre o que entenderem ser mais eficaz para os trabalhos da AR. É a opinião deles. E podem votar essa mudança. Mas um dia, outros, também com maioria, podem reverter tudo. Isso é que é a democracia. Ou será que não? Nunca se sabe. Está tudo de pernas para o ar.