«O Estado da União é forte». Esta frase celebrizou Reagan, quando a usou para terminar o seu primeiro discurso anual ao Congresso. Agora, invariavelmente, (não sei se Trump seguiu, nem interessa), essa frase final é usada pelos Presidentes, no tradicional discurso sobre o estado da União. Não é isto, infelizmente, que vamos ouvir na Assembleia da República, na sexta-feira.
O estado da Nação é péssimo, preocupante, indefinido, e sem recuperação à vista. É isto que o Primeiro-Ministro (PM) vai dizer? Claro que não, muito longe disso, mas também não tanto que nos coloque na situação de perguntar de que país, e estado das coisas, é que estava a falar?
Sabemos hoje, sem margem para nenhuma dúvida, que a pandemia só terminará, ou será controlada, com um medicamento (ou vários) e vacinas. Até lá será o que já conhecemos. Dias maus, dias mais ou menos, mas nenhum dia bom. Até lá viveremos com esse peso, com esse temor, com essa desconfiança introduzida pelo Covid-19. Mas quatro/cinco meses de pandemia deu-nos a vantagem de criar um estilo de vida, e de trabalho, mais cautelar, prudente, com o mínimo de risco possível.
Outra coisa, muito diferente, é o estado económico e financeiro da Nação. E por favor tirem deste baralho, porque levará tempo a chegar, e anos a ser integralmente cumprido, os 45 mil milhões da União Europeia. É muito bom, é quase um quarto do nosso PIB, mas não resolve os dramas imediatos de Portugal. Do Estado, com gastos inesperados e sem fim, particularmente na Saúde e Segurança Social, das Empresas, micro a grandes, que não conseguem repor a normalidade, nem assegurar as responsabilidades mais básicas, e dos cidadãos e famílias, que são sempre os primeiro a levar a pancada.
É muito interessante fazer um programa de recuperação para a próxima década, mas o que a Nação precisa é de uma ajuda imediata, nos próximos dias, meses, mas em 2020. E em 2021, e em 2022, pela certa. Cada dia que passa, e tendo o Governo reposto, como se a normalidade tivesse voltado, a maioria das obrigações para as pessoas e empresas, sem nenhum plano para pagamentos faseados, moratórias que não as bancárias, à medida da crise, vai acontecer o que Costa e Silva escrevia no seu Programa: o colapso das empresas vai começar a partir de Setembro, e a menos que exista «um programa agressivo», no terreno, a ser executado, o desastre será exponencial. A partir do segundo semestre – que já começou – a economia terá uma «significativa deterioração».
Bom seria que o PM aproveitasse o Estado da Nação, embalado como está, para anunciar programas agressivos, de execução imediata, para evitar o desastre. É isso que a Nação quer ouvir. É isso que a Nação precisa. O estado da Nação não é, nesta fase dramática, um mero discurso de calendário, mas uma ideia forte, imediata, e simplificada do que pode ser feito, e já amanhã.