No mesmo dia, porque em qualquer dos casos ficará sempre como o acionista decisivo na TAP e Efacec, o Estado lançou a revolução das nacionalizações. Há aqui um cheiro a PREC de 1975. Se começou, então é para continuar. Porquê só a TAP e Efacec (com esta fomos todos apanhados de surpresa) e não dezenas, ou centenas e milhares de outras, que muito gostariam, e precisariam, de ter o Estado, fonte inesgotável de recursos financeiros, como acionista mandante. Assim não vai dar. Não há para tudo.
Por mim, nunca o Estado na TAP e Efacec. Não se consegue perceber. Qual o racional que não se conheça: a TAP está falida, os acionistas não queriam por dinheiro, e assim sendo, nós todos, assumimos o encargo mínimo de 1.2 mil milhões. Para começar.
Quanto à Efacec, não há racional que valha. É uma empresa reputada, que se recompôs a partir de 2015, puramente privada, e em que só os privados deveriam intervir. Para qualquer lado. Com uma explicação rebuscada, difícil de perceber, o Governo apropria-se de 71% da empresa, no pressuposto de que vai vender com toda a celeridade. Há aqui muita ligeireza.
As ações estão arrestadas pela Justiça, esse processo deve levar anos a ser resolvido, e de repente, para salvaguardar não se sabe bem o quê, o nosso Estado, pujante e cheio de dinheiro, assume a posição de acionista maioritário, sobre o qual vão cair todas as responsabilidades. E já agora quem é que vai comprar? Sabe-se do interesse de vários grupos, desde que Isabel dos Santos foi exposta, mas nunca avançaram, por uma razão simples: a litigância que pende sobre essas ações inviabiliza uma compra. Ninguém se vai meter num sarilho que custa milhões, e nunca se sabe como vai acabar. E ainda falta aqui uma parte que ainda não abriu a boca: Angola. E já agora, acrescente-se, que parte importante do dinheiro para a compra de Isabel dos Santos, em 2015, foi posto por bancos nacionais, que não deixarão de reclamar ao novo dono.
O que é que se está a passar? Qual é a estratégia? Se é que existe, claro. O Governo sempre pode dizer, claro, que está comprador de tudo. Pronto, sempre é uma estratégia. Mas com o dinheiro de quem? Da UE não será, com certeza. Dos cofres públicos muito menos, porque estão vazios. Uma de duas, ou as duas ao mesmo tempo: mais impostos, e mais empréstimos obrigacionistas.
Para a TAP deveria apenas funcionar um empréstimo privado garantido pelo Estado, nunca a 100%, com condições e prazo muito bem definidos, e no caso da Efacec, já que estão preocupados, deveriam ajudar em tudo o que fosse possível para um dos interessados avançar. A continuar assim, o Estado ainda vai ser acionista da Galp, da Nós, do Banco Eurobic, e de outras posições da angolana. Afinal a pandemia também trouxe o vírus do PREC.