Não vale a pena, é pesado, constrangedor, ver todos os dias os números da DGS sobre contagiados, internados e mortos. Chegou a altura, por um momento que seja, de pormos de lado esse drama angustiante, que só agrada aos catastrofistas, inquieta os realistas, e obriga os otimistas a colocar as coisas nos sítios certos.
Vamos lá ver, então, porque é que precisamos de muitos otimistas, nesta fase. A primeira razão, e mais forte, é que um otimista inato tem uma confiança extraordinária no que existe, e no que vai existir. Inspira tranquilidade, acredita que há uma distância infinita entre o bom e o mau, acorda e adormece cheio de esperança, e tudo o que é, ou parece, dramático, é apenas um pormenor de um quadro grandioso e cheio de nuances. Então como é que um otimista vê a pandemia da Covid-19? Em Portugal, por exemplo.
Muito bem, vamos então aos números, que parecem alarmantes, mas não são coisa nenhuma: neste momento, rigorosamente, temos 42.454 contagiados. É preocupante? Nem por isso. Não de todo. Estamos a milhas desse pessimismo. Por um dado imbatível: com uma população de 10,3 milhões de pessoas, os contagiados são apenas 0,41 por cento. Fixem bem este número: só 0,41 por cento da nossa população é que foi dada como portadora da Covid-19. Até hoje. Ponham isso em perspetiva. Olhem para o grande quadro. É ridículo tanto medo. Tanto pessimismo. São muito, muito poucos os contagiados. Comparem, por favor, com outras doenças, também mortais. Coitadinho do Covid-19.
E o número de mortes? Vamos a isso: ao dia de hoje, foram reportadas 1579 mortes. Trágico, sim, mas representam 0,001 por cento da nossa população. Convenhamos que não tem sequer a dignidade de um título. 0,001 por cento! Pois é. É isto. Infelizmente são mortes. Mas morrem muitos mais pessoas, todos os dias, de dezenas ou centenas de outras causas. Infelizmente também.
Mas estamos numa pandemia, gritam os realistas. O pior ainda não chegou. O mundo como o conhecemos acabou. Isto é a praga do apocalipse. Então vamos lá ver se nos entendemos: pandemia é apenas uma designação da OMS. Importante sim, porque implica que o vírus está espalhado por todos os continentes. E então? O vírus mata mais por ser pandémico? Qual é a doença que não está espalhada pelo mundo? Há alguma?
Finalmente vem o argumento pesado dos pessimistas: mas quem apanha a Covid-19, se tiver mais de 60, ou 70, ou 80 anos, e mais, fina-se, de certeza. Os números não mentem. Aqui, e em todo o lado. Sim, é verdade, mas essas faixas etárias deveriam apenas ter juízinho, e cuidadinho. Qualquer velho otimista tem sempre as duas metades do cérebro a funcionar: Uma metade diz: por que raio, e a que título, é que eu estou incluído nesses 0,001 por cento? Vão chatear outro. A outra avisa: não relativizes tanto a vida, que ainda ficas sem ela. Que chatice. Há sempre um microscópico vírus pessimista, no maior dos otimistas.