O turismo alcançou o estatuto de religião política e económica nacional. Os turistas, estrangeiros de preferência, são os apóstolos – os enviados, e bem-vindos- dessa crença, dessa devoção no dogma da nossa salvação nacional. Esta religião não tem 10 mandamentos, mas um único: venham até nós, e gastem muito dinheiro. E sendo um dogma, é inquestionável.
Quem manda neste novo culto? Quem é o messias, o salvador? Bem, modéstia à parte, somos todos, Portugal inteiro. Manda quem pode, mas a nossa fé no turismo é milagrosa. E os milagres, os prodígios, também não se questionam.
Há muitos, outros países, que não acreditam. Ainda. Duvidam em mandar os enviados. Em deixar que eles partam. Em não receber os nossos. Porquê? É difícil de aceitar. A religião do turismo tem milhões de devotos, floresce onde há calor e Sol, muitas praias, boa cama e comida, e isso é justamente o nosso melhor fenómeno. Quem não pode acreditar?
O turismo é uma fonte de vida, longa, prazenteira, à medida de todos, e perceber que alguns não aceitam isso, à conta de um pequeno problema sanitário, é desagradável, intolerante, discriminatório, e sabe-se lá se não tem contornos de racismo.
A nossa inabalável fé faz tudo para que os Governos desses países não nos excluam, de viajar para lá, nem impeçam os crentes de chegar. Isso até se pode resolver. Isso estamos a tentar ultrapassar. Nisso temos toda a razão: quem são os Governos para achar que mandam no destino dos seus cidadãos? Era o que faltava. Deixem os turistas em paz.
Eles sabem olhar para os números, sabem ler os mapas, também contabilizam e comparam, mais aqui, menos ali, e na sua imensa sabedoria e sensatez escolherão o caminho que querem percorrer. Qual de nós não iria agora às praias de Copacabana, ver crocodilos na Flórida, percorrer as largas avenidas de Paris, ou experimentar o metro de Londres?
Fazer turismo é ter fé na boa vida. E isso é o que temos para dar. Com pequenas chatices passageiras. Quem não as tem, já agora?