António Costa, inesperadamente, e não com esse propósito, revelou o que se passa com a pandemia em Portugal, ou mais especificamente em Lisboa e Vale do Tejo: os números subiram, e muito, “porque estamos a fazer mais testes!” Finalmente, a verdade. Finalmente, percebemos todos, mas não o Governo, que temos um problema sério, que pode obrigar o País a voltar atrás. Há muito mais contagiados do que pensávamos, ou diziam, pela simples razão de que mais testes estão a mostrar essa realidade. Que é mais grave. Que é mais preocupante. Que é mais avassaladora.
E se muitos mais testes forem feitos, mais contagiados aparecerão. Não vale a pena tentar diminuir a seriedade do problema. Não vale a pena fazer de conta que são casos isolados, em determinados setores. Não vale a pena dizer que está tudo controlado. Porque não está. E se estivesse, por mais testes que se fizessem, a curva dos contagiados tenderia sempre a baixar, ou estaria estabilizada. Finalmente o primeiro-ministro (PM) disse o que eventualmente não queria.
O vírus está na comunidade, tem uma taxa de transmissibilidade preocupante, e Portugal arrisca-se a perder a imagem internacional, de supostamente ter tido um grande desempenho sanitário. Tinha sim, mas quando fazia poucos testes. Agora, sendo um dos países que mais testa, mais contagiados aparecem. É para isso que servem os testes. No fundo, para se dar um valor à epidemia. Para se perceber se as medidas tomadas estão a surtir efeito. Para levar a que o Governo pense se está a dar os passos certos.
Também podemos fazer o contrário: simplesmente não testar. Ou testar pouco. Ou fingir que se testa. Por outras palavras, usar o modelo chinês. Nunca ninguém saberá, exceto os que na verdade sabem, como foi, qual a extensão, número de transmissibilidade e taxa de letalidade naquele país. Que agora iniciou, aparentemente, uma segunda vaga.
O PM, e muito bem, embora achando que era uma questão puramente lógica, acabou por dizer tudo sobre a gravidade da pandemia. Não interessa o nome que lhe queiram dar, se segunda vaga, se segundo pico, se surto retardado, mas a verdade é que as autoridades sanitárias estão muito longe de controlar a situação, e têm pela frente um quadro sombrio. Façam mais testes, por favor. Assim ficamos a saber a verdade toda.