1. Assim, de repente, à primeira vista, o PM anunciou um plano de estabilização e recuperação muito bem construído, sólido e pragmático, que prolonga as decisões mais eficazes tomadas em emergência, e introduz outras medidas para, como disse António Costa, enfrentar a mais grave crise económica e financeira de que há memória. É um programa extenso, detalhado, muito consistente nos apoios sociais, prolongando e criando outros, mais abrangentes, sem discriminações, e com uma evidente preocupação no emprego, mantendo por mais algum tempo o lay off, compensando essa quebra de rendimentos, e apostando na normalização possível do consumo interno.
Mas não há verso sem reverso. O plano parece mais frágil, no ponto central da recuperação económica: um apoio rápido, em profundidade, e com consistência, às empresas. As que criam e mantêm emprego. Muito bem na duplicação das linhas de crédito, para 13 mil milhões, mas sem resolver, aparentemente, a maior de todas as queixas e protestos do tecido empresarial: é um processo muito demorado, burocrático, e incompatível com a rapidez exigida.
E aqui o Governo dá um tiro longo, difícil de compreender, numa fase de emergência: a ideia de ressuscitar o Banco do Fomento. Fará sentido, mas não agora. É inquestionável que esse instrumento do Estado vai levar anos a construir, a funcionar, e a conseguir ajudar as empresas. O Banco do Fomento não é o instrumento central para esta crise. Pela simples razão que não existe. Nunca existiu. Será sim, para a próxima.
O plano também aborda, levemente, as medidas fiscais, que são urgentes, e vitais, para o regresso das empresas à sua atividade. Vai da TSU aos pagamentos por conta do IRC, mas é pouco. Muito pouco na área central e vital das empresas: a tesouraria É preciso muito mais. Se não existir tesouraria, não há empresas, nem empregos.
Resumindo, e assim, à primeira vista, este plano tem uma grande virtude: é um plano. É um alinhamento de prioridades. É uma estratégia. O que não pode falhar, agora, é passar do «powerpoint» à realidade, o mais depressa possível.
2. O Governo teve o bom senso de apontar para dia 15, a abertura plena de Lisboa e Vale do Tejo. Era o mínimo. Qualquer outra decisão seria irresponsável, apressada, e sem qualquer suporte na realidade. Há tempo para se perceber, com maior certeza, se Lisboa piora, ou estabiliza. E estabilizar não é propriamente resolver o problema, mas atenuar e conter os contágios e mortes.