O Governo, com o temerário apoio da ministra da Saúde, teve em conta, pela certa, cinco razões científicas e comprovadas para deixar o país entrar, decidido, na última fase de desconfinamento. Tirando, por dias, as duas ou três exceções colocadas a Lisboa e Vale do Tejo.
- Está dito, está escrito, está visto, que este vírus «nasceu» para liquidar velhos. É um dado cientificamente provado, em todos os países. Então acima dos 70 é sempre a multiplicar por dez. E sendo para velhos, é o que é. O país não pode parar. De uma forma ou de outra, mais ano menos ano, sempre aconteceria. Bom, o vírus apressa, mas não mexe com a população ativa. Bem justificado.
- Está dito, está escrito, está visto que o SNS não aguenta tanto tempo em stress. O pessoal está em «burnout». Esgotado. E é publicamente reconhecido, pelo Ministério, que o Serviço Nacional de Saúde tem de voltar a olhar para os doentes sem SARS-CoV-2. Discriminadas, esquecidas, abandonadas, todas as outras patologias foram colocadas em quarentena. Será por isso que o número de mortes, comparando os meses homólogos de 2019, subiu exponencialmente? Como um SNS disfuncional, ou focado apenas num vírus, é duplamente ineficaz, então voltaremos ao que era. Colocar a pandemia no sítio certo. Num canto, de preferência. Bem pensado.
- Está dito, está escrito, está visto que a culpa, se alguém se esqueceu, é dos portugueses. Isto é ciência certa. Provado aqui e em todos os lados. Desleixando os comportamentos, o raio do R sobe, e a letalidade mexe, para cima. O problema, mesmo, é das pessoas. São elas que se contagiam, e que morrem. Como seria se as pessoas não fossem assim? Não há hospitais, ou cuidados intensivos, que aguentem, e quanto a medicamentos estamos falados. Bem ponderado.
- Está dito, está escrito, está visto que melhor é impossível. Os números são o que são, e ponto final. Mais ou menos 200/300 contagiados por dia, dois dígitos para o número de mortes (quase sempre 14, espantoso!), mas nada de assustador. Se os portugueses aguentaram, em 2 meses e pouco, quase 1500 mortos, devagarinho, baixinho, também aceitarão 3000. É a vida. É o risco de quem vive. Bem apanhado.
- Está dito, está escrito, está visto que o país não pode continuar parado, fechado, decapitado. Ou a população ativa – a que se safa – regressa em força, ou o país desaparece. Mais ou menos como disse D. Luísa de Gusmão: «antes rainha por um dia, do que duquesa toda a vida». É isso mesmo. Não podemos estar toda a vida amedrontados, ansiosos, preocupados com uma pandemia seletiva. Se seleciona, não atinge todos. Bem lembrado.
Assim sendo, e avaliadas as razões, todas cientificamente inquestionáveis, por que raio temos de esperar até quinta feira, para pôr Lisboa a funcionar? Abram tudo, encham o país de turistas, retomem o ritmo. Sejamos francos: a vida não é uma linha vermelha. Nada disso. É um cordel muito fino, que um dia se parte. Com o vírus pode partir mais depressa, mas só para alguns.