O primeiro-ministro precisa de um consenso mínimo, de um denominador comum, para o orçamento suplementar, ou plano de emergência económica, e, por isso, está empenhado em ouvir os partidos e perceber se a casa é comum, ou se cada membro da constelação política e parlamentar quer apenas o seu plano.
Todos concordam, vá lá, que Portugal precisa de um plano urgente, em forma de orçamento retificativo ou suplementar. Todos discordam das medidas a tomar, prioridades a estabelecer, dinheiro a alocar. Todos têm o seu orçamento.
Costa vai conseguir, nenhuma dúvida, o tal consenso básico, com alguns dos partidos, mas o tempo em que todos estavam de acordo com a emergência sanitária já acabou. Não se percebe bem porquê, como se consegue fazer uma fronteira entre as duas crises catastróficas, mas as coisas são o que são, como dizia Victor Cunha Rego. A questão é saber se esse mínimo vai ser suficiente.
Há, como sempre, uma claque de otimistas que jura pés juntos que a retoma vai ser rápida. Dois anos, mais ou menos. Outros, a maioria, estão muito longe desse paraíso. Portugal, a UE, e os países que contam na economia, ainda estão a milhas de terem atingido o pico da depressão económica. Esta última tese é a mais consistente.
Milhares de empresas vão fechar, micro, pequenas, médias e grandes, e o que isso representa em termos sociais e financeiros é um pandemónio nas contas nacionais de qualquer país. A União Europeia, muito devagar, ainda está na fase de perceber quantos são os mil milhões que vai pôr no fogo. Como sempre. Persiste o sentimento, pelos visíveis atrasos, que o Conselho, a Comissão e o Eurogrupo vão, uma vez mais, chegar tarde, sempre carregados de ponderações políticas internas, e incapazes de responder, com energia e rapidez, a uma crise. Foi assim em 2011 (que começou em 2008), na pandemia, e agora.
Em rigor, ainda não há plano nenhum na Europa. Merkel e Macron esforçaram-se, os cavaleiros nórdicos e afins retardam, e os Governos nacionais tentam Orçamentos Suplementares à conta do que pode vir. É o salve-se que puder, por agora. A Europa está no seu mais puro estado esquizoide. Precisa de pastilhas.