Marta Temido, na Assembleia da República (AR), foi direta e transparente: «podemos ter de enfrentar um reconfinamento». Foi uma resposta inequívoca, e um aviso sério aos portugueses, a quem voltou a pedir um cuidado extremo nos seus comportamentos. O Primeiro Ministro (PM) sempre foi claro na hipótese de voltar atrás, se a crise sanitária e a saúde pública estivessem em causa.
A diferença, apesar de tudo, é que António Costa fez isso num quadro retórico de início da primeira fase da abertura gradual do país, e a ministra da Saúde, que acompanha muito de perto a evolução da pandemia, avisou, alertou, e pela primeira vez colocou, preto no branco, que se as coisas não melhorarem e estabilizarem, poderá impor-se a necessidade de se voltar ao confinamento. Porquê agora, e na AR?
As razões e preocupações parecem óbvias: os contagiados não desapareceram, os mortos avolumam-se, a taxa de letalidade aumenta, e a aniquilação brutal de pessoas com mais de 60 anos é insuportável.
Mas há mais: estamos agora, e ainda, a ter a perceção correta do impato da primeira fase de abertura, que não melhorou nada, e de seguida, daqui a duas três semanas, perceberemos se a segunda foi acertada, ou precipitada.
Há ainda, uma outra preocupação da ministra, e calculo que do PM e Governo, já para não falar do Presidente da República: é suposto entrarmos na abertura total, e já sem teletrabalho, no dia 1 de Junho, data em que ainda não temos o quadro completo do segundo desconfinamento. Para manter esta decisão, é preciso ter a garantia e a certeza absoluta que está tudo sob controlo.
Ou seja, Marta Temido, calculo, e todos os portugueses, não estão disponíveis para um jogo de fecha-abre-fecha indefinidamente. Isso significaria um evidente desastre na saúde pública, e uma brutal desconfiança e desesperança das pessoas. Com o que implicaria, de infernal, para a sobrevivência económica do país.
Avisado, mesmo, seria o PM, e a ministra, com o apoio do PR e da AR, adiar, por 15 dias, ou um mês, a terceira e última fase de abertura. Ou então, no mínimo, manter o Estado em teletrabalho, e todas as empresas que o possam fazer. Excelente, mesmo, seria não atiçar o SARS-CoV-2. Que é o que estamos a fazer desde 4 de Maio. Só 4 de Maio!