Não sei muito de textos bíblicos e nem tenho o hábito de os usar para reflexões bem profanas como não podem deixar de ser as que nos cabem a nós, meros mortais.
No entanto, esta frase condensa, na sua simplicidade, o que acontece aos imigrantes que, duma forma mais ou menos planeada ou completamente precipitada por risco de vida, se lançam pelo mundo.
As alterações feitas à Lei de Estrangeiros agora aprovada vêm dar um sinal claro de que Portugal olha para a imigração com uma mais valia e não como um eterno e pressuposto crime.
Não se tratou de uma alteração feita à pressa, como só por ignorância ou má fé se argumente. Sabia-se bem que a questão estava em estudo há largos meses.
A alteração agora aprovada decorre, não apenas dum assumir de Portugal como país de acolhimento e de solidariedade, mas também de uma razão de ordem iminentemente prática: precisamos de imigração!
A questão da inversão da curva demográfica é o primeiro argumento inegável, mas a par deste existe um outro que é denunciado por todas as confederações profissionais: a clara falta de mão de obra.
Portugal, felizmente, atingiu um grau de excelência formativa que não se compadece com trabalhos indiferenciados. Aconteceu o mesmo na Alemanha, na Suíça e na França nos anos 60 do século passado. Foi a nossa emigração que construiu grande parte da economia daqueles países.
Portugal, felizmente, atingiu um grau de excelência formativa que não se compadece com trabalhos indiferenciados. Aconteceu o mesmo na Alemanha, na Suíça e na França nos anos 60 do século passado. Foi a nossa emigração que construiu grande parte da economia daqueles países
Permitir que alguém chegue ao nosso País com um visto de quatro meses para que possa procurar trabalho, tem, além da vantagem de poder, com agilidade e menos burocracia, responder a essa falta, a vantagem de combater a montante o flagelo do auxilio à imigração ilegal, ao tráfico e à escravatura laboral. Como? Criando condições regulares de imigração! Não existirá ninguém que se sujeite a arriscar a vida e o seu futuro nas mãos de gente sem escrúpulos, às quais paga o que tem e o que não tem, se o puder fazer de maneira regular, segura e sem constrangimentos.
Acresce a esta uma outra vantagem: a de poder trazer consigo a família direta, o que minimiza o flagelo e o desespero de quem fica anos sem ver filhos ou cônjuges.
E não, durante esses quatro meses, não vão viver à custa de nenhum subsídio. Tal não está na Lei! Caberá a cada individuo assegurar, através da sua rede familiar ou de apoio que já aqui tenha, ou pelos seus próprios meios, a sua permanência durante esse período.
Não tenho muitas dúvidas que seja um período bem curto.
Naturalmente que, vindo de forma regular, lhe confere a segurança de que o trabalho que irá realizar seguirá todos os preceitos contidos na Lei, desde a proteção social (para a qual contribuirá, note-se!) até ao salário digno.
O facto de se reforçar o Sistema de Informação Schengen (SIS II), obrigando à troca de informação e colocando-a à disposição de todos os serviços de segurança, traz uma garantia maior de segurança, não colocando esta em causa. Bem pelo contrário: agiliza e fomenta a troca de informações entre todas as forças envolvidas.
Relativamente à agilização de emissão de vistos para cidadãos da CPLP, damos o primeiro passo no cumprimento do acordo assinado em Angola e esperado há anos sobre uma maior facilitação de mobilidade entre estes países.
Portugal vê o mundo do trabalho com o olhar do século XXI. Hoje em dia os nómadas digitais são já uma realidade incontornável que a pandemia mais não fez que incrementar.
O nosso país tem as características ótimas para a fixação destes novos trabalhadores que, não esqueçamos, são na sua esmagadora maioria, jovens. Ao estabelecerem-se em Portugal, o seu contributo para o incremento da economia será enorme.
Para os que demagogicamente falam de subsidiodependência, note-se que, nos casos em que as contribuições sociais não sejam feitas em Portugal, também não será o nosso País a fornecer-lhes proteção social, à exceção de situações de saúde, pois que o nosso SNS, com todas as críticas que tenhamos (vão viver para os EUA e depois venham cá falar…), não deixa ninguém sem os mínimos cuidados médicos.
Esta é uma Lei que dá um passo em frente na atração de imigração e fá-lo com toda a segurança e com a visão lúcida dum mundo em mudança.
Quanto aos que se levantam e viram costas à casa da democracia, desejo-lhes, como católica não praticante, que nunca tenham que se levantar à pressa e sair para o desconhecido, levando, não o ordenado que os votos de alguns portugueses lhe conferiram, mas meia dúzia de tostões que amealharam com o suor ao longo da vida.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.