Conta a História (ou será uma história da História, quem sabe?) que, no final da II Grande Guerra, perante uma derrota anunciada, Hitler terá perguntado ao seu Estado Maior em França, se Paris já estava a arder.
Ao que parece a cidade estaria pejada de bombas, colocadas em locais emblemáticos, prontas a ser detonadas de maneira a que a Cidade Luz se apagasse para sempre.
A política de cerco e de terra queimada tem tantos séculos quantos as guerras humanas. Ou seja, existe desde sempre.
Com mais tecnologia, mais subtil (ou não!), o conflito entre a Ucrânia e a Rússia não foge à regra.
Não nos iludamos: esta é de facto uma guerra mundial.
É verdade que não há bombas a cair em Londres, Paris ou Lisboa. Mas o cerco à Europa e a política de terra queimada generalizada, não deixam dúvidas.
A Europa Central, com a Alemanha em destaque, enfrenta a ameaça da interrupção de fornecimento de gás por parte da Rússia, o que manietará as posições diplomáticas e as tomadas de posição, daqueles países.
Não se trata apenas da questão do fornecimento generalizado para consumo público, mas também do abastecimento imprescindível para o setor industrial.
Não nos iludamos: esta é de facto uma guerra mundial. É verdade que não há bombas a cair em Londres, Paris ou Lisboa. Mas o cerco à Europa e a política de terra queimada generalizada, não deixam dúvidas
Ou seja, estes países dependentes do gás russo, encontram-se debaixo dum cerco em tudo semelhante aos praticados nos tempos medievais.
O retorno às energias pouco limpas como o carvão põe em causa a questão ambiental e coloca a resolução energética imediata entre a espada e a parede.
Em boa hora Portugal apostou nas energias renováveis, na altura bastante contestáveis, mas que hoje nos colocam numa situação confortável. Até porque, em bom rigor, dependemos mais do gás da Argélia do que da Rússia.
E aqui novo imbróglio: dos dois pipelines que ligam a Argélia a Espanha, apenas um está em atividade total, devido às relações tensas entre aquele país e Marrocos, país de passagem do gasoduto.
Ora se isto não é uma guerra mundial não sei que lhe chamar!
Mais uma vez, a Europa enfrenta o seu grande problema, muito bem definido por Emmanuel Macron durante a presidência francesa da UE, de falta de soberania e de autonomia.
Não apenas energética como alimentar, note-se!
A minha geração (e as anteriores, pois claro) lembra-se bem dos campos de trigo, no Alentejo a perder de vista, mas também na Beira Alta mais pequenos, mas dourados ao sol. Possivelmente não seriam o suficiente para uma total autonomia cerealífera, mas deixava-nos sem dúvida numa situação bem mais confortável.
Decidimos abdicar de praticamente toda a nossa produção agrícola e piscícola, em troco de subsídios que acabaram em grande parte em Ferraris e outros carros de alta cilindrada e altamente poluentes.
Ainda hoje olhamos para a Agricultura, a Pesca e a Pecuária, como os parentes pobres da economia.
Não entendemos que, sem pão, sem alimentos, não se sobrevive e que tal como desde sempre, a fome é um dos gatilhos mais eficazes em qualquer guerra.
Mesmo que essa seja ameaçadoramente nuclear.
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