A contagem dos dias da guerra é um exercício quase caricato e, de certa forma, desumano, perante o cenário de destruição que o tempo, assim contado, deixou nas cidades e sobretudo nas vidas das pessoas.
Mas esse mesmo tempo também faz com que determinadas realidades surjam à luz do dia e que se comece a olhar em redor a cena política internacional e perspetivem outros ângulos menos visíveis desta guerra.
No entanto, o facto de serem menos óbvios não lhes retira a importância.
Nos filmes e nos livros policiais costuma dizer-se que a resposta a qualquer crime tem duas vias: seguir a mulher ou seguir o dinheiro. No jogo da guerra, tirando o exemplo histórico-romanceado da Guerra de Troia, o grande gatilho de todos os conflitos tem sido o proveito económico.
Ultrapassado algum discurso emotivo, começamos a olhar o conflito, às portas da Europa, com um olhar bem mais objetivo.
Verdade incontestável é ter havido a invasão dum país soberano por um outro seu vizinho.
Incontestável é também a garra e a forma inesperada com que a Ucrânia fez face a um opressor que, aparentemente, do ponto de vista militar, era muitíssimo mais forte.
E o primeiro erro terá sido efetivamente este: a narrativa de David contra Golias não passava afinal duma parábola.
Sendo certo que a guerra é o maior negócio de todos os tempos, implicando, não apenas a venda de armamento, como também o tráfico de seres humanos, culminando no rescaldo e na reconstrução dum país reduzido a cinzas, o conflito a que estamos a assistir é uma verdadeira mina de ouro!
Sendo certo que a guerra é o maior negócio de todos os tempos, implicando, não apenas a venda de armamento, como também o tráfico de seres humanos, culminando no rescaldo e na reconstrução dum país reduzido a cinzas, o conflito a que estamos a assistir é uma verdadeira mina de ouro!
Conhecemos de sobra os perdedores desta situação – as pessoas que perdem a vida, os familiares, a casa, o presente que refletia um futuro agora reduzido a cinzas – a pergunta que se impõe é saber quem de facto tem vindo a ganhar com este banho de sangue.
A resposta é rápida e fácil: a indústria do armamento e os países que a detêm.
Não podemos ignorar que as economias desses países, com os Estados Unidos à cabeça, têm vindo a conhecer um fulgurante crescimento, invertendo nalguns casos a curva descendente que vinham tendo.
Tal como não podemos ignorar o aproveitamento político de países externos ao conflito, duma e doutra facção.
Basta-nos olhar para os indicadores de popularidade de alguns líderes, cuja imagem interna e nalguns casos externa, apresentava um desgaste passível de colocar em causa o seu futuro.
Então, quanto tempo irá durar esta guerra?
O tempo que a comunidade internacional, leia-se os líderes externos, assim quiser.
Naturalmente que o preço a pagar será enorme e global. Mas será pago pelos menos implicados e pelos mais pobres.
Desde logo os cidadãos anónimos, os grupos mais vulneráveis, as mulheres, as crianças, os velhos e as pessoas portadoras de deficiência, vítimas diretas das armas e da destruição.
Por outro lado, a crise alimentar irá, assolará todo o mundo, uma vez que a Ucrânia era o celeiro mundial.
Mas far-se-á sentir de forma mais dramática no local de sempre: África.
A fome foi, desde sempre, a grande impulsionadora da mobilidade e do êxodo humano.
No rescaldo do conflito, ou mesmo ainda antes dependendo da duração do mesmo, iremos assistir a uma vaga migratória sem precedentes.
Nessa altura, não estaremos perante uma vaga de refugiados de guerra.
Mas estaremos perante refugiados da fome.
Que resposta iremos dar?
E já agora importa não esquecer a posição geográfica de Portugal, como porta de entrada na Europa.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.