Os russos habituaram-nos há anos à sua perícia no xadrez, que, como é do conhecimento generalizado, mais não é do que um jogo de estratégia/guerra ao qual, desde há séculos, os grandes generais se têm vindo a socorrer para, de uma forma lúdica, aplicarem as suas decisões de ataque e defesa.
Desconheço as aptidões de Putin no tabuleiro quadriculado. Já no plano da estratégia internacional, convenhamos que há que lhe tirar o chapéu!
Senão vejamos: a sua primeira incursão na Ucrânia, que culminou com a anexação da Crimeia, foi uma jogada de abertura com dois peões (territorial e experimental) que deixou a comunidade internacional pouco mais que inerte.
Essa passividade conferiu-lhe a confiança para o segundo passo do jogo, cuja estratégia final será encurralar e delimitar a União Europeia, colocando-a numa posição de altíssima vulnerabilidade, quer a nível de dependência enérgica, que naturalmente abanará a economia da UE, quer a nível securitário e de defesa.
Ou me engano muito ou não ficará por aqui. Até porque Putin viu claramente que o Ocidente tem horror à guerra e, como dizia ainda há bem pouco tempo o nosso primeiro-ministro, uma sanção não tem o mesmo impacto duma bomba.
Fazendo uma leitura geoestratégica e geopolítica da situação, atrevo-me a dizer que o conflito estará a poucos dias/semanas de terminar
Poder-se-á dizer que esta invasão da Ucrânia não lhe correu de feição, nem como previsto.
É possível. Não terá contado eventualmente com esse novo general dos tempos modernos que se chama mediatismo, o qual, quando bem utilizado, leva a movimentos de opinião pública que forçam governos a tomar posições que, doutra forma, talvez não tomassem.
Tão pouco contou com a tenacidade e o espírito nacionalista dos ucranianos que deram ao mundo uma lição do que é amar a Pátria e por ela dar a vida (“…contra os canhões marchar, marchar!”).
Pode muito bem ter acontecido essa subvalorização do adversário. Acontece aos melhores.
Mas o que faz dele um enorme estratega é que, definido o objetivo, não se importa de mudar de tática a meio do jogo, sacrificar algumas das suas maiores peças e retomar por outra via o caminho traçado.
Vejamos a situação: da Ucrânia, pouco mais resta que escombros. A política seguida por Putin foi de terra queimada. Algo não consequente com a normal estratégia do invasor clássico. Ninguém quer tomar um território que tem que reconstruir praticamente de raiz!
Após a destruição quase total, o mestre de xadrez diz esta coisa extraordinária: já não pretende desnazificar a Ucrânia (aparentemente terão sucumbido todos os nazis…); porém, opõe-se a que o país se junte à NATO, mas já não põe entraves à sua integração na UE.
O que equivale a dizer que a União fica com uma herança de mais de 3 milhões de refugiados e cerca de 6 milhões de deslocados num país completamente arrasado, cuja reconstrução terá um preço exorbitante!
Isto sem referir que, perante uma situação deste calibre, dificilmente terá capacidade de “construir” um sistema de Segurança e Defesa próprios que não seja de tal forma insignificante que, em bom rigor, valerá zero.
Portanto, jogada de mestre!
Ou me engano muito ou não ficará por aqui. Até porque Putin viu claramente que o Ocidente tem horror à guerra e, como dizia ainda há bem pouco tempo o nosso primeiro-ministro, uma sanção não tem o mesmo impacto duma bomba.
Fazendo uma leitura geoestratégica e geopolítica da situação, atrevo-me a dizer que o conflito estará a poucos dias/semanas de terminar.
Durante algum tempo, mesmo anos, viver-se-á numa paz podre, que pode ser um tempo único, para a reestruturação de algumas instituições internacionais, que demonstraram a sua insignificância e desadequação a este novo mundo (refiro-me à ONU) e para a UE estabelecer um desígnio comum que ultrapasse as meras questões de mercado.
Tarefa hercúlea e, temo bem, votada ao fracasso.
No entanto, a partida de xadrez ainda não terá acabado. Putin avançara com incursões em todos os países que fazem fronteira com a União, seguindo exatamente a mesma estratégia: política de terra queimada e ameaça de holocausto.
Até conseguir que a Europa Unida mais não seja que uma ideia sem importância.
E xeque–mate!
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.