Das situações que maior orgulho me proporcionou durante a minha estada em Vienna foi a dinâmica da Associação Áustria/Portugal.
Esta associação foi criada pelas crianças, hoje avós, que vieram para o nosso País como refugiadas e aqui permaneceram até ao fim da II Grande Guerra.
Foram muitas as famílias que acolheram estes meninos e estas meninas, todos eles de alguma forma órfãos, se não de pais mortos, pelo menos de pais retidos e sem possibilidade de os acompanhar.
Estes pais entregaram os seus filhos à sorte duma liberdade e duma paz que percebiam existir neste recanto da Europa. Durante anos, não souberam uns dos outros. Alguns puderam reagrupar-se, reencontrar-se. Outros não tiveram a mesma sorte.
A guerra que hoje vivemos é, em questões humanitárias e de solidariedade, muito parecida à dos anos 40 do último século.
Infelizmente serão milhares os órfãos desta guerra e é preciso que haja uma resposta concertada e concreta para que possam ser acolhidos e salvos.
As respostas do nosso País, quer em termos oficiais quer em termos de solidariedade e de mobilização da sociedade civil, tem sido, como é nosso apanágio, imediata, exemplar e em força
Portugal fê-lo uma vez. Portugal pode e deve fazê-lo de novo.
Um projeto que, do meu ponto de vista, deve ser liderado pela proximidade e, como tal, pelos municípios, identificando famílias dispostas a acolher estas crianças e a supervisionar este processo.
Trata-se de dar a possibilidade destes meninos e meninas poderem voltar a ter infância e adolescência. Voltarem a poder ir à escola, mesmo que estejam desacompanhados dos seus pais. Que possam ter alguém que os oriente num percurso de vida.
Conhecendo a comunidade ucraniana em Portugal é de esperar que estas crianças sejam, em primeiro lugar, acolhidas pelas famílias aqui instaladas.
Mas ninguém é demais neste acolhimento que se afigura de milhares de pequenos seres que se veem perante um horror que lhes ceifou a inocência.
As respostas do nosso País, quer em termos oficiais quer em termos de solidariedade e de mobilização da sociedade civil, tem sido, como é nosso apanágio, imediata, exemplar e em força.
Os municípios responderam presente, perante a necessidade de alojamento e de medidas de imediata integração.
Criar uma “bolsa” de famílias de tutela, perfeitamente identificadas e criteriosamente escolhidas, preferencialmente com crianças ou jovens das mesmas faixas etárias, que se proponham acolher, é uma resposta eficaz e antecipadora duma situação que, infelizmente, não nos resta dúvidas que venha a acontecer.
O momento impõe ações consertadas, mas desconcentradas.
Haverá mundo, haverá Ucrânia depois desta guerra.
Proteger estas crianças, fazê-las chegar a países em paz e acolhê-las em contecxto familiar é proteger toda um ageração.
Mais do que isso, é fomentar um sentimento de interajuda, humanismo e paz nestes que serão os órfãos desta guerra do século XXI.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.