Bem no meio dos serviços noticiosos, um pouco antes do segmento de desporto, quando este não está em destaque, têm vindo a surgir notícias mais preocupantes a cada dia que passa, sobre um possível conflito entre a Ucrânia e a Rússia.
Não se pode dizer que seja uma notícia realmente nova e, como tal, acaba por estar esvaziada do seu papel de “notícia” que em inglês assume a sua essência através da palavra “news”.
De facto o conflito tem cerca de oito anos.
Não se trata de guerra fria. Perguntem aos ucranianos que a vivem. Os conflitos bélicos existem, os mortos e desalojados também. Não é um combate entre dois exércitos, certo, mas não deixa de ser convencional nos seus métodos e sobretudo nas suas consequências.
A novidade está em que esta situação começa a extravasar as fronteiras daqueles dois países e a colocar em perigo a paz de 70 anos vivida na Europa.
Bem… na verdade de apenas 30, já que a guerra civil na antiga Jugoslávia foi imensamente sangrenta, com resultados terríveis para toda a população e que tendemos a esquecer talvez por vergonha. Mas isso será um tema para outra ocasião.
Desta vez, a Europa tem medo. E tem razões para tal, já que se encontra, uma vez mais, entre dois fogos. Dum lado, a Rússia e o seu aliado Chinês, do outro os Estados Unidos da América e a força NATO, que é a única que pode, eventualmente, proteger esta nossa região como um todo.
Mais do que uma guerra pelo domínio estratégico daquela região rica em matérias primas (desde logo o gás natural), trata-se duma guerra geopolítica.
A criação da Agência Portuguesa para a Migração e Asilo (APMA) remetida, compreensivelmente, para o final de maio , de forma a não criar entropia no momento eleitoral, continua ainda no papel para gáudio de quem não quer que nada mude e se mantenha a política musculada de imigração e os outros, os que veem na mobilidade humana não um perigo, mas sim uma oportunidade
A Rússia não pode consentir em ter tão perto de portas um aliado NATO e membro da União Europeia, sob pena de colocar em causa a sua hegemonia na região e de ter de abandonar definitivamente o sonho de restabelecer um novo império. Por seu turno a China tem todo o interesse em entrar num conflito que, embora não lhe diga diretamente respeito, poderá granjear-lhe o que, neste momento, ainda não possui para se assumir duma vez por todas como a grande potência mundial: o respeito na sua capacidade militar e estratégica.
Não tenho quaisquer dúvidas de que o conflito venha a existir. Em bom rigor, creio que nenhum dos líderes mundiais tenha opinião diferente.
Na Europa os sinais estão aí para quem os quiser ver e, mais uma vez, se jogam os interesses de domínio que só os mais desatentos creem ter deixado de existir.
Se a Alemanha tem a seu cargo o Banco Central Europeu, resta à outra potência dentro da UE, a França, chamar a si a liderança do processo para a constituição do exercito europeu. E é nisto que o Senhor Macron está empenhadíssimo. Até porque sabe, pela História, que o mandato da Srª Ursula von der Leyen está para durar e não se vislumbram grandes lugares de destaque na Europa nos próximos anos, e é sua vontade deixar uma pegada europeia como estadista.
De facto é cada vez mais essencial a existência duma politica de Defesa Comum o que, necessariamente, passa pelo estabelecimento dum exército Europeu.
Mas até lá são e sempre serão as populações que sofrem na pele os efeitos deste jogo de xadrez político e geográfico que não entendem.
No início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que terminou com a anexação da Crimeia em 2014, começaram pela primeira vez a surgir pedidos de asilo e de estatuto de refugiado de pessoas daquela região.
Naturalmente e resultado da vaga de imigração de Leste dos anos 80 e 90 do século passado, que resultou numa enorme e bem integrada comunidade, Portugal foi olhado como país de destino privilegiado.
Porém, a política tem destas coisas bizarras e por vezes pouco humanas! A guerra existia, as pessoas estavam em fuga e desespero, mas a Comunidade Internacional não reconhecia o conflito como “guerra” no sentido global do termo, pelo que o estatuto de Refugiado era difícil, para não dizer completamente impossível, de obter.
Os poucos jovens que conseguiram fugir ao recrutamento e ao conflito armado em 2013/2014 chegaram por outros meios, que não os do Refugio ou Asilo.
Mas, neste momento, a situação é francamente diferente e se bem que, para as populações envolvidas, pouco ou nada mudou desde então, para a tal comunidade internacional, a situação ganhou contornos mais alargados e sobretudo mais perigosos.
Daí que seja muito provável que Portugal venha a ser, em breve, destino de refugiados ucranianos.
Neste momento, a política, e sobretudo a estrutura de apoio, e acolhimento de migrantes em Portugal, encontra-se em completo limbo.
A criação da Agência Portuguesa para a Migração e Asilo (APMA) remetida, compreensivelmente, para o final de maio , de forma a não criar entropia no momento eleitoral, continua ainda no papel para gáudio de quem não quer que nada mude e se mantenha a política musculada de imigração e os outros, os que veem na mobilidade humana não um perigo, mas sim uma oportunidade.
No meio deste emaranhado, estão funcionários que não sabem qual será o futuro que os espera e imigrantes que também não.
Face ao panorama politico saído das últimas eleições, não existe razão para que a agência não seja criada no mais breve espaço de tempo.
Até porque os ventos de mudança estão aí e é preciso apanhar os bons para que se chegue a bom porto.
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