O mundo novamente confinado é um cadilho onde fervilham os movimentos extremistas, que se aproveitam do descontentamento da população como verdadeiros vampiros.
Como em todas as situações de crise profunda, seja ela de carácter económico ou, como é o caso, de índole sanitária, há os que fazem verdadeiras fortunas à custa da miséria e da desgraça.
As farmacêuticas que deveriam estar ao serviço da vida promovem uma espécie de leilão, com o qual deixam reféns os países e os cidadãos. É óbvio que, como empresas que são, têm que zelar pelos interesses dos seus acionistas e, como tal, têm que visar o lucro e recuperar o investimento feito na pesquisa e na produção de vacinas. Mas há aqui um despudor pela vida humana que não pode deixar de ser altamente criticada.
Num outro plano, bem mais débil, surgem fenómenos perfeitamente anacrónicos e sobretudo inaceitáveis. Alguns países da União Europeia (UE) proibiram já o uso de máscaras sociais, afirmando que são ineficazes “no combate ao vírus”. Ora, mesmo não sendo nem pretendendo ser virologista, o vírus não se “mata” com máscaras! Estas existem para evitar uma maior propagação, servindo de barreira em contatos sociais, prevenindo a inalação de partículas expelidas por possíveis infetados. Neste momento, um pouco por toda a Europa e sobretudo nos países de economias mais frágeis, como é o caso do nosso, há gente a passar fome. Gente que ainda há um ano tinha uma vida mais ou menos segura e equilibrada e que, de repente, se viu a braços com o facto terrível de nada ter para pôr na mesa. Quem faz voluntariado junto de instituições de apoio a estas carências sabe bem do que falo.
Há meio milhão de fascistas em Portugal? Não acredito! Há sem dúvida mais de meio milhão de gente descontente com os partidos do chamado “arco da governação” e seu clientelismo. Isso sim
Comprar máscaras no supermercado ou mesmo máscaras sociais – naturalmente, sempre certificadas – é já um enorme esforço. Exigir que usem as máscaras XPTO, que custam o triplo ou mesmo dez vezes mais, é um convite direto à falta de proteção mais elementar. Acresce ainda o eco de alguma comunicação social que afirma serem essas que “matam o vírus”. Não há máscaras que matem o vírus! Se assim fosse não seriam necessárias e urgentes tantas vacinas! A falácia de algumas medidas leva à desconfiança de outras, essas sim imprescindíveis, e ao tumulto social, do qual se aproveitam movimentos negacionistas e outros tão ou mais perigosos.
Pois que, com o vírus que nenhum governo previu nem sabe combater (e como poderia, se é algo novo e completamente inesperado?), surgem sempre salvadores e enviados de um deus qualquer que têm as respostas para tudo e todos, mas só as dirão quando tiverem o poder nas mãos.
Estes vírus políticos não se combatem na praça pública com desdém ou sobranceria. Até porque, como vimos nas últimas eleições, representam quase meio milhão de eleitores.
Não se combatem intitulando-os de fascistas e bradando aos céus que são o anti-cristo.
Combatem-se através de debate claro, com cifras reais e factos concretos.
Não vi em nenhum debate alguém perguntar ao “enviado de deus”, por exemplo: Qual a percentagem de RSI que é concedida à comunidade cigana? Que propostas de inclusão têm esses senhores para estes portugueses (porque SÃO portugueses)? Em quanto montam as contribuições dos imigrantes para os cofres do Estado? Que soluções adotariam para o SNS? Que posição defendem relativamente à violência de proximidade (doméstica e não doméstica)? Como solucionariam o problema dos lares ilegais?… E por aí fora.
Entrar numa discussão de café é descer ao nível do básico que aponta o dedo mas não resolve nada. Não podemos esquecer que, na História, as grandes ditaduras, quer de direita, quer de esquerda, surgiram em situações de crise e foram apoiadas pelo povo. Há meio milhão de fascistas em Portugal? Não acredito! Há sem dúvida mais de meio milhão de gente descontente com os partidos do chamado “arco da governação” e seu clientelismo. Isso sim. Mas esse é um combate interno a ser feito nesses partidos.O resto combate-se com factos e com menos ruído.
E isto é válido também para os órgãos de comunicação social. Uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade e é com isso que os partidos totalitários contam. Temos dois vírus neste momento. Para um, não há vacina a não ser mudar de paradigma, ser verdadeiro com os eleitores e chamar à liça os assuntos que devem ser debatidos, demonstrando quais partidos são mesmo sinónimos de reis completamente nus. E sebentos, já agora.