Estamos em guerra e é na guerra que os heróis se destacam, que o trigo se separa do joio, que se reconhecem os líderes, que as falhas e os constrangimentos tomam dimensões impossíveis de maquilhar.
Na guerra surge o pior e o melhor de todos e de cada um. É o momento em que se formam verdadeiros elos, se forjam espíritos de nacionalismo, se expurga o que já não tem valor.
Que orgulho verificar que, por uma vez, Portugal conseguiu uma união política capaz de fazer face a este inimigo invisível e, por isso mesmo, tão mais perigoso.
Como qualquer um, tenho seguido os noticiários, as declarações e as posições de cada um dos protagonistas políticos, quer nacionais quer internacionais. Mais uma vez fica claro quem de facto tem preocupações de caráter social e quem se auto-exclui depois de comportamentos de risco. Mais uma vez o governo de António Costa vem dar ao País e à Europa uma lição, não apenas de responsabilidade cívica, mas sobretudo de liderança.
Sem alarmismos excessivos nem tão pouco falsas euforias, o governo soube atuar de forma firme sem resvalar para o securitarismo musculado, dando à população a hipótese de também ela demonstrar que está ao nível do que é esperado.
Depois das imagens absurdas de praias cheias de gente, houve uma consciencialização que, se pecou por tardia, redimiu-se pela sua assumida responsabilização.
Esteve muito bem o governo. Muito melhor do que outros que, por essa Europa fora, se auto-intitulam como mais civilizados e evoluídos, embora continuem a manusear o pão com as mãos nuas e anunciem sabonetes que prometem maravilhas no “banho semanal” (verdade nua e crua). Mas é nestas alturas que nos apercebemos das lacunas e dos pecadilhos herdados duma outra época, que enfermam a nossa função pública.
Primeira questão: o que é, o que se pede a um dirigente? Que dirija, naturalmente. E o que é dirigir? É assumir responsabilidades, ter iniciativa, correr riscos e, em tempos conturbados como estes, tomar as rédeas da situação e pensar “fora da caixa”. Mesmo que tal traga, posteriormente, consequências pessoais ou outras. Há que agir sempre em defesa do mais importante que existe: as pessoas.
Foi pois com um enorme choque que, após ter assistido aos supermercados limitando a entrada de clientes, às farmácias e outros estabelecimentos improvisarem perimetros de segurança, vejo imagens transmitidas pela televisão de enormes e compactas filas junto de serviços de atendimento ao público.
Ora três dias antes, o próprio governo anunciara que todos (TODOS) os documentos de identificação nacionais ou não, se consideravam válidos, pese embora a sua caducidade, até a situação se normalizar.
Não teria sido sensato então as direções destes organismos terem encerrado os postos de atendimento? “ Ah mas a tutela…” Os dirigentes servem para isso: para interpretarem as tutelas, para complementarem as suas medidas e até (o que não era de todo o caso, mas o foi na situação do nosso querido Aristides) ir contra elas quando outros valores mais altos se levantam.
Mas pensemos que… pronto, não se quis ir tão longe.
Poder-se-iam pelo menos ter-se cancelado as marcações já feitas, não? “Ah, mas o sistema informático…” Ora bolas para as desculpas!!!
O que se viu nas imagens (e nem quero imaginar o que se passaria lá dentro) foi no mínimo vergonhoso e irresponsável, quer por parte das pessoas que ali estavam, quer por parte de quem tem responsabilidades acrescidas por estar bem melhor informado e por ter um poder que não assiste aos restantes.
Pelo menos, e como acontece em qualquer supermercado, poderiam ter organizado a coisa com os elementos de segurança que se encontram em todos estes organismos.
Mas as guerras e os momentos criticos servem também para isto: separar o trigo do joio e purgar o que há que purgar.
Até lá que todos sejamos forças de segurança .