Esta manhã, tive de “cropar” a imagem de destaque do meu amigo Pedro Oliveira nos sete formatos possíveis que o site da VISÃO comporta. Ele sorria-me enquanto eu fazia, mecanicamente, na sua foto, os gestos necessários quando se coloca uma notícia online, algo que tantas vezes experimentámos juntos para ver se estava tudo a funcionar quando mudámos ou afinámos o backoffice.
Se ele estivesse aqui ao meu lado, como tantas vezes acontecia antes da pandemia, estaríamos invariavelmente a gozar com o facto de ele estar cada vez mais careca e, digamos assim, um pouco volumoso. Já todos tivemos melhores dias, e o Pedro não perdia a oportunidade de gozar consigo próprio. Acerto os crops finais, gravo a fotografia, adiciono-a ao artigo com o título que nunca pensámos ter de escrever: Morreu Pedro Oliveira, ex-diretor da Exame Informática.
Ocorrem-me dezenas de títulos diferentes, mais condizentes: Pedro Oliveira, o “techie” de coração enorme, o jornalista entusiasta, o resolvedor de mil coisas, o maior porreiro e boa onda, o otimista incorrigível, o bombeiro multi-funções, o indispensável.
Nada disto é próprio numa notícia destas, claro está. Toda a gente conhece o Pedro Oliveira por causa dos seus mais de 17 anos à frente da EXAME Informática, e pelo programa de tv que inventou e que ainda apresentava na Sic Notícias. Pedro sempre foi pioneiro nesta área, onde era reconhecidamente admirado, um dos melhores.
Há três anos, largou a direção da Exame Informática, mantendo-se sempre próximo da equipa e continuando a ser o rosto do programa de tv, e passou ser, como o próprio brincava, o tipo com o cargo mais comprido de Portugal: Head of Digital e Diretor de Parcerias e Novos Negócios na Trust In News, empresa detentora da VISÃO (e outras 14 revistas). Ele era isto tudo, de facto, porque ele era o tal otimista que resolvia problemas e inventava soluções. Um especialista em tecnologia, com certeza, mas também um empreendedor, o tipo que se chegava à frente para fazer coisas acontecer quando era preciso.
Voluntarista, sempre disponível para ajudar os colegas, era a pessoa a quem todos recorríamos para qualquer coisa relacionada com o digital. Oferecia-se sempre para apagar fogos, mesmo os que não eram dele, porque era incapaz de não o fazer. Era da sua natureza: um ser humano bondoso, simpático e divertido, de quem vinha sempre uma palavra oportuna. Deixou sempre saudades e admiração por onde passou. Mais do que um colega, era para a maioria de nós um bom amigo.
A sua partida aos 49 anos, tão súbita e inesperada, deixa-nos absolutamente em choque. Ainda ontem à tarde, numa conversa de Teams, nos dizia bem disposto que iria receber hoje a alta da Covid. Esta noite, o seu coração parou. E o vazio doloroso que nos deixa a todos nós, mas sobretudo à família que tanto adorava, é imenso.
Acabamos de escrever o artigo sobre morte do nosso Pedro, dedos tão dormentes como a cabeça. Fazemos seguir o alerta da notícia, um artigo aberto, sem paywall. Penso na quantidade de vezes que este tema nos arreliou a ambos, quando ficávamos frustrados da tecnologia nos falhar.
O Analytics está a disparar, tantas as pessoas a ler em real time, como ele gostava. Hoje, o alerta mais triste de sempre chegou direitinho, tanto pela app como nos desktops. Não que isso importe alguma coisa, Pedro: este era o único alerta que não queríamos ter de enviar, meu amigo.