A beleza da democracia a funcionar é que ela é como o tempo: podemos tentar antecipá-lo, mas não o podemos dar por garantido. Como o Homem e a Natureza, a democracia tem tudo de orgânico: ajusta-se, adapta-se, rebela-se, surpreende. Há quem diga que tropeça e erra (o tema faz correr rios de tinta entre ensaístas e académicos), mas, ao contrário de todas as outras formas de governação, é a única que se pode autocorrigir.
Para quem gosta da democracia, seja qual for o desfecho de uma eleição, vê-la a funcionar legitimamente é sempre qualquer coisa de emocionante. E domingo foi um dia de emoções fortes. Carlos Moedas, o herói da noite, sublinhou o óbvio no discurso de vitória: venceu Lisboa “contra tudo e contra todos”. Só faltou acrescentar o “apesar” que não podia pronunciar em voz alta. Mas é justo dizer o óbvio: Moedas venceu Lisboa, apesar de Rui Rio e do estado do PSD. Mostrou que é ao centro-direita, com compostura e sem desvarios populistas, que o PSD ganha território. O que é, a todos os níveis, um grande feito.