Para quem ande arredado dos temas europeus, há um importante braço de ferro em curso que nos toca a todos: o da mais do que certa redução do orçamento dos fundos estruturais no próximo quadro financeiro plurianual de 2021-2027, que ainda está a ser negociado pelos Estados-membros. E porque é que isto importa? Porque Portugal foi (e ainda é) grande beneficiário dos fundos de coesão comunitários. Da Europa virá adiante menos dinheiro pelas torneiras a que estamos habituados, e que tanto nos ajudou no desenvolvimento de infraestruturas, equipamentos sociais e educação.
Mas se o corte é incontornável, há outras janelas de oportunidade que se abrem. O reverso da medalha é o aumento de fundos nas áreas que espelham uma agenda totalmente nova da comissão liderada por Ursula von der Leyen: o ambiente e a economia verde e a transformação digital. E é nessa nova agenda, que marca uma era diferente em que a União quer liderar, que temos agora de nos posicionar.
É preciso esquecer os preconceitos do clássico país dos coitadinhos beneficiários da coesão e “começar a pensar em ir buscar dinheiro às novas políticas”. A mensagem da comissária portuguesa, Elisa Ferreira, com a pasta da Coesão e Reformas, na entrevista que deu ao Público, não podia ter sido mais clara, mas exige-se a entrada em níveis de sofisticação empresariais e de inovação tecnológica mais elevados. Em linguagem futebolística, é como passar do campeonato nacional para a Liga dos Campeões. Saltar para o campeonato dos grandes, portanto. Não é para quem quer, é só para quem pode.
Em curso está o desenho de um “Green Deal” europeu, um grande pacote de reformas e iniciativas para acelerar a descarbonização da economia do continente. Este plano ambicioso marcará, sem qualquer dúvida, a agenda europeia durante as próximas décadas, porque obriga a uma mudança radical no modo como se faz indústria e agricultura – a meta é alcançar a neutralidade carbónica em 2050.
Se o grande desígnio europeu passa a ser o combate às alterações climáticas, importa não ficar para trás. E Portugal pode trilhar caminho nas energias renováveis e na investigação tecnológica, em que tem boas competências. Ficar a chorar sobre o leite derramado com menos fundos de coesão é que não levará a lado nenhum…