Querida avó,
Maio, como sabes, é conhecido como o “Mês do Coração”. Ao longo destes mês, costumam realizar-se um conjunto de atividades na tentativa de alertar a população para a problemática das doenças cardiovasculares, sendo que todos os anos é dedicado a um (ou mais de um) fator de risco, em particular.
É impossível falar de coração sem falarmos do prof. Fernando Pádua, conhecido sobretudo por ser o Dr. Coração, já para não falar dos seus laços, a sua imagem de marca.
Sabes que já estive com o prof. Fernando Pádua várias vezes. É sempre tão enriquecedor o que tem para partilhar. Se hoje se vivem muitos mais anos, é graças a pessoas como ele, que insistem na prevenção, e não na cura depois de surgirem os problemas.
Lembro-me de ele partilhar comigo os cuidados que devemos ter com a alimentação.
Que fazer exercício físico é fundamental para sermos saudáveis. Que os adultos devem abandonar o terrível hábito do tabaco. Que devemos reduzir o sal o mais possível.
Que todos devemos ir ao médico pelo menos uma vez por ano, para nos certificarmos de que está tudo bem.
Que devemos ter menos stress e tantas outras dicas. Pratico todas, não sei se é por isso que me mantenho “jovem”.
Por falar em coração, finalmente comecei a ler o livro Coração, de Edmundo D’ Amicis, que tanto me recomendaste. O diário onde um jovem relata a sua vida na escola e na família, com os colegas, os amigos e os professores.
Incrível como, passados tantos anos, este livro continua a ser tão lido no mundo inteiro. Obrigado pela recomendação.
Ainda sobre as dicas do prof. Pádua, existe uma em particular que achei imensa graça: “Os elevadores não servem para nada. Só se for para descer. Para subir devemos sempre ir pelas escadas!”.
Em breve, lá irás tu para a pátria do teu Coração. Onde fazes muito mais exercício físico e praticas uma vida mais saudável.
Cuida do teu coração.
Bjs
Querido neto,
É terrível falar de coração numa altura em que somos bombardeados diariamente com notícias que nos deixam com o coração aos pulos (de nervos).
Há um ano, por esta altura, cai-me no colo a notícia da morte do Coronel Dinis de Almeida, que entrou nos nossos corações desde o dia 11 de Março de 1975, em que acabou com um possível golpe de Estado.
Possivelmente só saberás que foi um militar de Abril—e já não é mau…—mas foi muito mais que isso. Ele comandava o R.A.L.I.S. que, de repente, foi bombardeado e invadido pelos paraquedistas a mando do Spínola—que lhe entregaram um documento para ele ler e se render.
Estou a vê-lo na televisão, muito jovem, a ler o documento sem as mãos lhe tremerem sequer, e a falar com os revoltosos, como se de um banal acontecimento se tratasse. Os revoltosos eram uns broncos e nem sabiam explicar muito bem o que estavam ali a fazer. “Estamos aqui em nome de um grupo de pessoas que não estão satisfeitas com o rumo que as coisas estão a tomar!”—parece que ainda os estou a ouvir…–e não passavam disto. Ao fim de algum tempo, sempre muito sereno, ele conseguiu dar a volta àquilo tudo, explicar-lhes que eles não tinham razão nenhuma—até que se abraçaram todos e se retiraram, e o golpe ficou por ali. Graças ao Dinis de Almeida.
Mas não falemos mais disto.
Fiquei muito contente por saber que já tinhas lido o Coração. É espantoso como um livro escrito em finais do século XIX consegue ainda cativar as crianças de hoje.
Lembro-me de o ter lido aos meus filhos, eram eles ainda pequeninos, e estávamos a passar férias na Costa Nova. À noite, antes de adormecerem, lá lhes lia um capítulo. Eles choravam tanto que eu até pensei em não ler mais. Mas eles é que insistiam! E fizeram-me ler o livro até ao fim! E nunca tiveram pesadelos…
Era um livro que se passava todo num país que eles não conheciam, e era uma história muito patriótica, porque tinha sido escrita no tempo da reunificação de Itália. Eles adoravam o Garibaldi como se fosse um herói da nossa história.
Já o dei à minha neta mais nova, que também gostou muito. Os irmãos mais velhos de certeza que nunca leram: viveram mais tempo em Inglaterra do que ela, e as escolas por lá nem deviam saber quem era o senhor. Vou esperar que cheguem os bisnetos.
Quanto ao prof. Fernando de Pádua, já o entrevistei algumas vezes—mas o cardiologista da minha família era o dr. Alfredo Franco. E se me lembro dele é porque um dia a minha mãe foi consultá-lo e levou o meu filho, muito pequenino. Um primo nosso tinha-lhe dado nos anos um carneiro, que ele amava de paixão (e que morreu de velhice, claro…) a quem ele, sabe-se lá porquê, dera o nome de Alfredo. Então quando ouviu a avó cumprimentar o dr. Alfredo Franco disse logo: “olha, tens nome de carneiro!” Foi a partir daí que a minha mãe passou a ir sempre sozinha ao médico.
E é isto.
Bjs
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