Dia 17.
Dizem os psicólogos que são cinco as fases do luto. Negação, quando não acreditamos que a perda aconteceu. Raiva, quando somos tomados pela revolta. Negociação, quando tentamos encontrar formas de mitigar a dor perante uma situação que já damos como irreversível. Depressão, marcada pela impotência, melancolia, culpa e falta de esperança. E, por fim, a aceitação, quando se olha a perda com mais serenidade e tentamos seguir em frente.
Por esta altura, acho que estamos algures entre a fase da negociação e da depressão pela perda do nosso modo de vida “normal”. Na terceira semana, dizem os que já passaram por isto primeiro, é quando a coisa se complica a sério nas nossas cabeças. Percebemos que não há maneira de atalhar este confinamento obrigatório, que está mesmo para durar. Que os efeitos serão muito mais sérios e prolongados do que à partida se imaginou. Que os impactos económicos serão devastadores. E que ninguém sabe muito bem como quando e como vamos, realmente, sair disto.
No meu caso, a terceira semana coincide com um fator de neurose acrescido. Precisamente hoje estaria de partida para os Estados Unidos com toda a família. Uma viagem em modo de roadtrip planeada ao detalhe há longos meses, pela qual todos sonhávamos em contagem decrescente. Agora, os dólares oferecidos aos miúdos no Natal para o pé de meia que andaram a amealhar foram guardados, até ver. Um dia destes, quem sabe, conseguiremos acionar os vouchers da TAP e reativar o modo de sonho outra vez. Vamos tentar fazer disto a cenoura à frente do nosso nariz. A vida há-de continuar, se Deus e a Covid-19 quiserem, algures lá mais adiante.
O que mais custa neste processo é a falta de esperança. De cada vez que Graça Freitas, nas conferências de imprensa ao País, diz que “isto não é uma coisa de uma quinzena ou de dois ou três meses”, há milhares de pessoas a afundarem mais uns palmos na fossa da ansiedade e depressão. É verdade que não podemos alimentar falsas ilusões – as autoridades têm de manter um discurso realista perante a incerteza. Mas há, tem de haver, um meio caminho entre o realismo e o logro. Algures pelo meio tem de estar a esperança – sem ela qualquer travessia ou provação tornam-se verdadeiramente insuportáveis.
“Se estás a atravessar o inferno”, continua, disse Churchill. Mas para isso temos de saber que do lado de lá está qualquer coisa menos má. Mesmo que todos já tenhamos a certeza de que no fim do inferno não estará o paraíso.