Ao ler ou ouvir comentários aos resultados das eleições brasileiras fico com a sensação de que os portugueses, e são muitos, se importam mais com quem governa os outros países do que quem governa Portugal.
Com as opiniões divididas, entre a esperança de um Lula libertador, à esperança de um Brasil próspero pela mão de Bolsonaro, os portugueses transmitem a ideia de que sempre que existem eleições por cá, o nível de abstenção é dos mais baixos do mundo, mas o interesse por política é diário. Foi assim com as eleições no Brasil. Foi assim quando os Estados Unidos foram a votos e as opiniões dos portugueses se dividiram entre o apoio a Trump e o apoio a Biden.
No entanto, sobre política caseira a opinião é branda ou mesmo nula. Vejam-se os resultados das últimas eleições, em janeiro, onde o nível de abstenção foi superior a 40 por cento. É um fenómeno interessante e que acredito estar a ser estudado por quem de direito.
Estou a fugir à ideia com que parti para este texto: a bipolarização de candidatos a cargos máximos e como isso se pode traduzir em perigo para os regimes democráticos e pluralistas.
Com o Brasil a eleger outra vez Lula como Presidente, pergunto-me se não haveria uma terceira via? Houve. Na linha da partida ao Palácio do Planalto estavam 12 nomes (entre eles Bolsonaro, Ciro Gomes, Lula e Simone Tebet), mas apenas dois chegaram à porta. Candidatos com passado muito particular e onde um apresenta no currículo o cumprimento de pena de prisão por crimes de corrupção.
Se olharmos para os Estados Unidos a bipolarização é uma constante; já corre a ideia de que nas próximas eleições Trump, que está a ser investigado quer pelo desempenho na vida política, quer enquanto empresário, estará na casa da partida.
Por cá, ainda falta muito para elegermos o sucessor de Marcelo, um cargo que regra geral costuma ser cobiçado por muitos candidatos. Na última eleição foram oito os portugueses que se apresentaram a sufrágio. No entanto, sabemos que na linha da partida “tombam” uns tantos e que a verdadeira disputa acontece apenas entre dois.
Os nomes que começam a soar, como que a apalpar terreno, deixam antever a apresentação de “pesos pesados” e que alguns partidos poderão ser forçados a fazer escolhas difíceis.
Sem que tenhamos certeza, Augusto Santos Silva, atual presidente da Assembleia da República, parece estar a perfilar-se. À direita ouve-se o nome de Paulo Portas, Marques Mendes e sonha-se com Passos Coelho. No entanto, Sócrates parece ter ganho uma nova vida pela mão de António Costa, isto na semana em que os mais novos celebraram o Halloween e dias depois de o ex-primeiro-ministro ter publicado texto onde arrasa o Governo em temas como o novo aeroporto e alta velocidade.
É certo que Costa poderá estar a “engolir um sapo” ao destacar Sócrates (que curiosamente tem menos um ano de idade do que Augusto Santos Silva) como um grande político. Mas, também é certo que foi um dos seus braços direitos, tal como Augusto Santos Silva.
Como em política não há elogios grátis, começo a temer o regresso do antigo primeiro-ministro à política. Afinal, vivemos num país onde a maioria do cidadão eleitor não demonstra interesse pela vida política caseira, não vêm para a rua gritar, mas onde a tradição é de bipolarização a cargos como o de Presidente da República. Quem se lembra de eleições presidenciais com três candidatos fortes que levante o braço!
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