Passamos a vida a ouvir que que, para chegarmos longe na vida, temos de ser espertos, que tudo na vida deve ser calculado e que é uma ideia acertada agirmos de forma racional, para levarmos o nosso barco a bom porto. Quem nunca ouviu a frase “O mundo é dos espertos”? Não poderia concordar menos com a mesma.
O mundo não é dos espertos. O mundo é de todos. E cada um de nós é aquilo que é, procurando sempre na vida melhorar, mas guardando a sua essência. Penso em como deve ser uma enorme canseira passar a vida a fingir algo que não somos para enganar os outros, só para agradarmos ou conseguirmos atingir um determinado objetivo…
Quero acreditar que podemos ser nós próprios, mesmo com todas as nossas fragilidades e defeitos, e ir ao encontro do que pretendemos. Quando tentamos ser “chicos espertos”, mais tarde ou mais cedo, a máscara acaba sempre por cair e o vazio chega. O vazio de termos traído a nossa verdade, de chegarmos a um ponto em que nem sabemos mais quem somos, do que gostamos, o que nos faz sorrir ou tremer de emoção.
Quando educamos as nossas filhas e filhos, devemos ensinar-lhes a ponderação, a resguardarem o que têm de mais íntimo para aqueles em quem confiam, e isso nada tem de errado ou de fingimento. Mas também lhes devemos ensinar que, por exemplo, se um dia quiserem ser felizes ao lado de alguém, não é suposto fingirem para agradarem a ninguém ou para serem mais amados. Quem nos ama, ama-nos exatamente por aquilo que somos. E não há sentido maior de liberdade do que podermos ser sempre nós sem medos e de sermos amados por isso.
O mesmo se aplica ao mundo do trabalho. Ponderação sempre. Embuste nunca. Jogar às claras é essencial para que possamos caminhar de cabeça erguida. Se formos realmente bons naquilo que fazemos, o nosso valor acaba por saltar à vista de todos, sem que tenhamos que nos colocar em bicos de pés para o demonstrar. Só temos de dar o nossos melhor e trabalhar o nosso talento natural, lutando de forma transparente e com caráter para alcançarmos os nossos sonhos.
Todos somos diferentes e não devemos julgar os outros a partir do juízo que fazemos de nós mesmos. Ou seja, cada pessoa encara uma situação de forma que pode ser mais ou menos semelhante à nossa, ou mesmo totalmente oposta. E não há nada de mal nisso. Só temos de o aceitar ou não. Não temos de fingir que concordamos com alguém só para agradarmos a essa pessoa, nem o contrário . Simples assim.
Por isso, considero que o mundo não é dos espertos. O mundo é de quem encontra o equilíbrio entre a perceção de que a sua essência pessoal é única e valerosa, e a compreensão de que nem todos podem e devem entrar na nossa vida, ou, pelo menos, permanecer nela. Evidentemente que, como seres humanos, estamos em constante evolução, e isso é ótimo. Parar é morrer. Contudo, tudo que constituir uma traição aos nossos valores é, certamente, um caminho que devemos evitar. As pessoas são, na verdade, muito mais do que o número de seguidores que têm no Instagram.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.