Tenho três cães – o Ernesto, o Erman e o Ércules – que fazem parte do agregado familiar, como costumo dizer, e a quem não imagino virar as costas. No entanto, nem todos os animais de companhia, particularmente os de quatro patas, recebem dos seus tutores (como agora se diz) em igual proporção ao que dão. Vem isto a propósito da agenda do dia que, entre aumento das taxas de juro, construção de altares, bónus a CEO’s ou que os portugueses de classe média e média alta continuam com “padrões de consumo muito elevados” e a jantar fora às sextas-feiras, mostra a união da sociedade civil em torno da causa dos animais de companhia.
Caso não tenha dado por isso, tudo começou quando o Ministério Público pediu a inconstitucionalidade da lei que criminaliza os maus-tratos a animais. O caso empolou e o PAN assumiu o comando de que “inconstitucional é maltratar um animal”.
Sem querer tirar o mérito, nem deveríamos pensar no tema, quanto mais na possibilidade de maltratar e ou abandonar animais de companhia. Do meu ponto de vista, esta pode ser uma forma de medir o grau de civismo de um povo. Mas, quando olho para a realidade percebo que é assim, que é concreto, que há gente que abandona, maltrata, explora animais de companhia. Tal como é concreto o abandono de familiares em hospitais ou instituições similares. E, se temos coragem para voltar as costas aos mais velhos… onde ficam os animais de companhia?
Será que vamos legislar também no sentido de proibir ou impor multas ou coimas a quem abandona o seu familiar numa instituição de saúde? Aqui, dirá, é uma questão de educação, de princípio, de ADN!
Não. Não é. É uma questão de civismo. E civismo aprende-se, quer em casa, quer nos bancos da escola.
E, quando os professores anunciam que não irão desistir da sua luta, pergunto se também não será falta de civismo a forma como o Governo continua a tratar aqueles que poderão fazer a diferença entre Portugal ter “gerações brilhantes” ou “gerações apagadas”.
Tal como os animais de companhia, os professores dão tudo em cada ano letivo. Não será chegada a hora de a sociedade civil cerrar forças e contribuir para a luta daqueles que moldam gerações e que também ensinam civismo?
Quem cultiva pepinos sabe que se não fizer uma pequena poda o produto não cresce da melhor maneira, porque cria uma rama sem valor e adquire um gosto desagradável. O mesmo com os homens do amanhã, que deverão saber cuidar dos seus animais de estimação, como quem cuida de uma jóia.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.