Mario Draghi, que completará 75 anos em setembro, teve uma educação jesuíta e é devoto de Santo Inácio de Loyola, o fundador da Companhia de Jesus. Alheio a essa formação não será o facto de, nas cinco décadas que leva de vida profissional, ser um exemplo de alguém que se dispõe a servir os outros, em prol de um bem comum, independentemente das ambições e dos projetos pessoais. As palavras estão um pouco fora de moda, mas são estas: dedicação à causa pública. Há dez anos, com a Europa envolta numa crise, Draghi proferia um dos discursos mais conhecidos da história europeia recente. De forma clara e assertiva, segurou mercados e um rol de líderes mais assanhados perante as dívidas públicas de alguns países: “Dentro do nosso mandato, o Banco Central Europeu (BCE) está pronto para fazer tudo o que for preciso para preservar o euro.”
Com as medidas então implementadas pelo BCE, Draghi salvou o euro, fazendo jus à sua fama de “Super Mário”, o cognome inspirado no boneco do jogo da Nintendo. Da presidência do BCE à mais recente geringonça do governo italiano, muito aconteceu. Já sabemos: movimentos migratórios, pandemia, guerra, crise energética, outra alimentar, carestia e inflação (chamam-lhe – cinicamente, pois – “a tempestade perfeita”). Nos últimos 17 meses, Draghi foi o primeiro-ministro que liderou uma impensável coligação de partidos que vai da esquerda à extrema-direita. Agarrou no processo de vacinação, preparou as reformas estruturais que o país reclamava. Em fevereiro, quando o regime de Putin invadiu a Ucrânia, também foi determinante na definição da política russa da Europa: foi uma voz serena, mas firme. Num tempo de discursos populistas e respostas fáceis, falou claro aos eleitores e às opiniões públicas europeias. “Queremos ter paz ou o ar condicionado ligado no verão?”, perguntou, em abril, enquanto a União Europeia discutia pacotes de sanções e um eventual embargo ao gás russo.