Esta é uma reflexão já feita por muitos humoristas e pensadores. Quais os limites do Humor? Para já, apenas um limite existe, o da liberdade de expressão. De uma forma geral, esta liberdade cessa quando se traduzir numa ofensa injustificada à integridade moral, ao bom nome ou à honra de outra pessoa.
Simplificando e pesquisando casos de humoristas condenados pelas suas piadas, são muito poucos aqueles que foram condenados nas principais democracias ocidentais, e, se o foram, foi em situação extrema, com penas suspensas.
Em Portugal, não. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social multou a SIC por excesso de humor num programa de Rui Sinel de Cordes. Entre outros argumentos (tentem não rir) a ERC alegou “sequestro e tortura de um Pai Natal”, talvez por queixa do original. A multa viria a ser anulada, e a SIC absolvida pelo Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa.
Parece-me muito bem que o humor não seja levado a sério, e não justifique um Grande Tribunal para ser julgado.
Na verdade, defendo que humor é apenas humor. A função do humorista é fazer rir, e para isso recorre à sátira, ao exagero social, ao escárnio e outras técnicas que funcionam nuns casos e noutros não.
O Humor não é uma ciência exata, não é sequer uma ciência. A mensagem produzida pelo emissor é interpretada de forma muito diferente por cada recetor, dependendo do seu meio social, da distância para o acontecimento ou do seu simples estado de humor naquele dia.
O mesmo conteúdo, em circunstâncias diferentes, gera reações distintas no mesmo grupo ou indivíduo. E, no mesmo momento, a mesma piada dita ou vinculada por pessoas, ou formas diferentes, também.
As mesmas palavras publicadas, num tweet por João Quadros, e ditas por Bruno Nogueira causam reações diferentes nos respetivos públicos.
Quando impusermos legalmente limites ao humor estamos a castrar um dos mais elementares pilares da democracia – a liberdade.
Seria de bom senso excluir doentes, mas quais? Como diferenciamos o grau de doença que permite fazer rir? E as loiras? E os alentejanos? E os políticos? E a homossexualidade? Haverá sempre alguém que defende que não se brinca com alguma coisa.
A melhor forma de regular o humor é através da lei de mercado. Os humoristas que excedam os limites de alguém, que usem frequentemente a personalização da piada em temas mais sensíveis para algumas pessoas, são penalizadas por esses consumidores que não vão aos seus espetáculos, que não vão os seus programas de televisão, através da sua crítica.
Fazer rir é, para mim, uma arte que merece muito respeito. A inteligência de um humorista é posta à prova em cada piada, em cada gargalhada e aplauso.
Uma sociedade que não sabe rir dela própria tem um problema sério para resolver.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.