A reeleição de Rui Rio como líder do PSD, nas condições em que ocorreu, mudou as perspetivas dos resultados das eleições de 30 de janeiro. Assim, da convicção de uma vitória quase certa do PS, com uma muito provável “maioria reforçada” ou mesmo maioria absoluta, passou-se para a ideia de que o PSD até pode ganhar, embora isso ainda não seja o mais previsível.
E porquê tal mudança? Porque tudo indicava que Paulo Rangel iria ser eleito líder do PSD, e como tal “candidato” a primeiro-ministro. O que era ótimo para o PS, mormente por Rangel: 1) se situar mais à direita do que Rio; 2) apontar como exclusiva meta uma inalcançável maioria absoluta, por assim (julgar) agradar mais aos militantes e para não ter de esclarecer o que faria sem ela; 3) e, sobretudo, recusar à partida qualquer entendimento com o PS, indispensável para viabilizar um governo, quando a estabilidade governativa é hoje uma das principais preocupações políticas dos portugueses.
Mas Rangel perdeu e o PS não terá estas vantagens. Enquanto, ao invés, o facto de Rio ter vencido, “contra tudo e contra todos” nas suas palavras, fortaleceu muito a posição do PSD. Embora os seus adversários eleitorais possam utilizar o que profusamente, e as mais das vezes injustamente, contra ele foi dito pela imensa maioria das principais estruturas e “figuras” do seu próprio partido, não se vendo como boa parte delas se possa empenhar agora na campanha eleitoral (e será isso mau… ou bom?).
A fortíssima oposição interna, alguma da qual manifestando-se desde o início e assumindo uma notória agressividade e desconformidade com valores essenciais, sempre teve tão “boa imprensa” como Rio a teve má. É assim verdade que, por exemplo e por diversificadas razões, também a generalidade dos comentadores e dos jornalistas que não sabem separar os factos das opiniões estavam contra Rio. E no entanto ele ganhou de novo. O que lhe dá um “perfil”, eleitoralmente vantajoso, de vencedor mesmo contra todas as expectativas.
O líder do PSD é de facto, como já aqui escrevi, um político em vários aspetos diferente, em geral com uma imagem, para as chamadas pessoas comuns, de seriedade e sobretudo sinceridade, dos poucos que não se sabe de antemão o que vão dizer, porque capaz de defender o que pensa, mesmo que não agrade ao partido ou politicamente o prejudique.
Face à nova realidade decorrente da vitória de Rui Rio, o que vão ser os programas, e mesmo a composição das listas, nos casos do PS e do PSD (especialmente do PSD), ganha uma importância que em regra não tem. Mais, a campanha eleitoral será decisiva para os resultados de 30 de janeiro. Ora o PS tem feito campanhas muito fracas, sem uma ideia/estratégia clara e mobilizadora para o objetivo em vista. E em 2015 apenas por isso, porque a campanha da coligação PSD/CDS foi muito mais eficaz, não ganhou as eleições – como explicou e demonstrou o publicitário brasileiro que a dirigiu.
Será que o PS, apesar de tudo partindo em vantagem, vai repetir os mesmos erros, vai manter uma certa autossuficiência e/ou displicência que levaram aos resultados de 2015 e contribuíram para alguns das últimas autárquicas, incluindo em Lisboa?