Corre por aí uma espécie de tese onde se assegura que o crescimento do Chega se deve em grande parte à liderança de Rui Rio. Haveria assim um conjunto de eleitores cujos valores se encaixavam nos do PSD, mas com a chegada de Rio o partido deixou de ter esses princípios no seu património ideológico. Esses cidadãos foram à procura de quem os pudesse ter e descobriram nos no Chega.
A primeira conclusão a que se pode chegar é que ou essas pessoas estavam enganadas quando votavam no PSD ou estão enganadas agora quando votam no partido do Ventura.
Não me esqueço dos que defendem que as pessoas votam no Chega para mostrar o seu descontentamento face ao estado de coisas e não se importam de apoiar uma organização racista, xenófoba, logo não defensora dos valores da democracia. O nosso conhecido voto de protesto. Por aqui podemos concluir que o PSD tinha entre os seus votantes quem não quisesse o partido a governar, mas sim a protestar.
Mas pronto há quem acredite que viam o PSD como partido de protesto ou então acham que para não perder esses eleitores devia ser um partido menos interessado em governar e mais em protestar.
Mas vamos ainda dar outra hipótese há tese de que Rio é um dos fermentadores de voto no Chega. Os ex-eleitores do PSD revoltados com a suposta falta de oposição a António Costa que decidem fazer? Deixar de votar no PSD e votar no Chega. Mas com que objetivo? Querer fazer leis para determinados grupos étnicos e não para outros é fazer oposição? Gritar que anda tudo a roubar é o que esses eleitores que pretensamente eram do PSD pensam que é forma de fazer oposição?
Claro que Rui Rio não tem nada que ver com o crescimento do Chega. Os fenómenos populistas têm razões sistémicas, existem em todos os países da Europa e estão ligados a um descontentamento em que as pessoas confundem os problemas e as soluções e, nunca esquecer, há mesmo franjas da população que não acreditam na democracia liberal, como há muitos racistas e xenófobos. E, sim, quem vota num tipo como o Ventura pode não ter consciência disso, mas está a votar contra a democracia e a liberdade.
A história de que o crescimento do Chega se deve a Rui Rio é uma simples ação de campanha dos seus adversários internos, nomeadamente dos apoiantes de Paulo Rangel. A conclusão que querem que se tire é simples: com a vitória de Rangel o Chega seria esvaziado. É uma tese absurda que não atinge os seus objetivos mais imediatos.
Rangel é alguém que suscita simpatia na extrema-direita? Rangel apela aos votantes antissistema? Há quem veja Rangel como um líder do movimento informal dos “anda tudo a gamar” e vai limpar o país?
Claro que não. Paulo Rangel é tudo menos um político antissistema; um homem que será tudo menos de extrema-direita; um homem que lutará contra tudo menos contra o politicamente correto – e ainda bem.
É insultuoso para Paulo Rangel, um democrata, andar a dizer que ele terá simpatias entre os eleitores do Chega.
O debate sobre quem ajuda ou não o Chega só ajuda essa organização. Dá-lhe uma centralidade que não tem nem pode ter e menoriza quem o faz.
Os candidatos à liderança do PSD têm fatores de distinção claros e que importa serem analisados, que as duas entourages se concentrem na divulgação dessas estratégias e não gastem tempo com patetices que só prejudicam o partido.
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