No dia 1 de setembro e depois de meses de reflexão decidi desfiliar-me do CDS-PP. As razões são várias, mas gostava de começar pelas razões que, primeiro, me levaram a filiar e a iniciar esta aventura que agora termina.
A minha militância começou com um convite da então presidente, Assunção Cristas. Na verdade, a minha decisão de filiar-me começou bem antes com as conversas e os debates com os amigos e com a minha vontade de ajudar na dimensão que eu trabalho, ou seja, as Relações Internacionais.
Ao longo da minha vida fui pensando se a militância partidária faria sentido e “esbarrava” sempre em dois argumentos. O primeiro está relacionado com a total independência, ou seja, a liberdade plena de discordar e de não estar condicionada pelas decisões de um partido. O segundo tem que ver com a minha forma de ser: em matérias importantes não sei estar a meio-gás ou de forma parcial. Pertencer significa acompanhar, participar e estar presente em todos os momentos importantes, mesmo tendo uma vida profissional intensa.
Em 2016, a Assunção lançou-me o repto da filiação. Na nossa conversa dois argumentos em especial pesaram. Desde logo, os enormes desafios internacionais, regionais e nacionais para um país como Portugal. Seria para mim uma oportunidade de poder contribuir com o que sei para a visão do CDS-PP na busca de um equilíbrio externo face a este mundo tão difuso. E, em segundo lugar, um argumento para mim muito importante: é preciso ter mais mulheres na política de forma ativa e plena (e não apenas a fazer número)!
Decidi avançar e o meu primeiro “momento” foi o Congresso em Gondomar, no qual passei a fazer parte da Comissão Política Nacional. E depois em Lamego, em 2018, da Comissão Executiva. A exigência foi grande e, muitas vezes, foi muito difícil conseguir ir às reuniões mesmo sendo à hora de almoço. Não foi mesmo nada fácil conciliar outras reuniões pela noite fora e não raras vezes claudiquei. A “hora Cinderela” falou mais alto e a outras nem consegui ir.
O desafio maior foi, sem dúvida, a integração na lista para as eleições europeias em 2019. Foi uma aventura extraordinária que culminou com cerca de duas semanas no terreno. Desde logo, camaradas de armas que foram incansáveis como o Nuno Melo, o Pedro Mota Soares, o Vasco Weinberg e os “miúdos” excecionais da JP. Uma coisa é sabermos no papel que, nas eleições europeias, é o total nacional de votos que interessa. Outra coisa é sentir na pele as poucas horas de sono e o cansaço acumulado de percorrer o País. Em termos de cansaço, “paguei” a fatura durante o verão após as eleições. Nunca mais olharei para a parte operacional de uma eleição de forma distanciada. Mais ainda, o contacto e a proximidade com os eleitores foram muito recompensadores do ponto de vista humano. Em resumo, foi uma experiência que recomendo e que guardo como uma memória muito, muito boa.
Em paralelo, a intensidade da minha vida profissional foi crescendo e as dificuldades em manter a participação também. Ainda assim, estive envolvida na candidatura do João Almeida que foi derrotada no Congresso de janeiro de 2020. Deste modo, e pensando na dimensão política, fiquei em pousio.
Nos dois últimos anos, fui observando a liderança do CDS-PP e constatando sinais muito preocupantes e hesitações sérias sobre o que é ser de direita democrática liberal. Assisti com uma tristeza imensa à deterioração da vida política interna e da linguagem utilizada.
Face aos Trumps, Orbáns e Abascals desta vida assinei um texto (com mais 53 pessoas) sobre “A clareza que defendemos” no jornal Público a 10 de novembro de 2020. Seguiu-se um conjunto de críticas e de ataques cuja intensidade e alguns autores me surpreenderam. Inclusive de quem está próximo, fundamentalmente próximo da direção atual do CDS-PP.
Quando olho para o nosso país, a fotografia que vejo é de uma democracia repleta de perigos. Nenhuma confusão devia ser facilitada, porque nenhuma confusão existe entre “nós” e “eles”. Uma direita democrática, liberal, conservadora, de matriz democrata-cristã devia saber que sociedade defende e com que medos e fantasmas se recusa a conviver. Qualquer hesitação baralha os eleitores, legitima discursos dúbios e dilui fronteiras fundamentais.
Sabendo que estar a meio-gás nas dimensões importantes da vida dá cabo de mim, encontrei-me várias (e depois muitas) vezes a pensar: faz sentido? Para mim deixou de fazer e, do ponto de vista formal, a partir do dia 1 de setembro, já não faz. Tomei esta decisão bem antes das eleições autárquicas e do próximo Congresso. Saio agradecendo a todos os que me ajudaram e com quem aprendi.
Não tenho dúvidas de que o combate dos nossos dias é o da defesa da democracia liberal face aos iliberalismos, às “zonas cinzentas” e às ditaduras dentro e fora de casa, dentro e fora da Europa.
Continuarei esse “meu” combate sendo fiel a mim própria.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.