A Indonésia conta com uma população de mais de 270 milhões de indivíduos e como religiões predominantes o Islão, o cristianismo e o hinduísmo. Os cristãos são uma minoria de pouco mais de dez por cento, cerca de 33,1 milhões neste país maioritariamente muçulmano mas sofrem um nível de perseguição religiosa considerado severo.
Todavia o mapa religioso parece estar em mudança. Segundo a investigação da BosNewsLife (BNF) estima-se que cerca de metade da população de Jacarta tenha aderido à fé cristã e se reúna em igrejas domésticas. Esta transumância religiosa de milhões de indonésios sucede apesar dos esforços das autoridades para contrariar tal tendência. Quem conhece o terreno afirma que só em 2018 pelo menos três a quatro milhões de indonésios se converteram a Cristo.
Devido ao risco de prisão, morte e acusação de “blasfémia” contra o Islão, os novos cristãos mantêm-se em anonimato e muitos cristãos continuam vestidos à maneira muçulmana para não levantar suspeitas.
Em 2010 estimava-se que 87% dos mais de 260 milhões de habitantes da Indonésa fossem adeptos do Islão, contra 7% de protestantes e 2,9% de católicos, mas a mudança profunda do mapa religioso que actualmente se verifica permite pensar que dentro de cinco a dez anos os cristãos sejam já metade da população do país.
De acordo com a organização Portas Abertas – que publicou a Lista Mundial da Perseguição, decorrente da pesquisa realizada entre 1 de Outubro de 2019 e 30 de Setembro de 2020 – a situação dos cristãos na Indonésia tem vindo a deteriorar-se nos últimos anos, com a sociedade a assumir um carácter islâmico tendencialmente mais conservador.
Os habitantes que cresceram em famílias muçulmanas e se converteram à fé cristã experimentam frequentemente perseguição no seio das próprias famílias, variando de intensidade de acordo com a família e o local. Em regiões do país como Java Ocidental ou Aceh, onde existem fortes grupos islâmicos extremistas sofrem grande influência social e política, e maiores dificuldades em obter permissão para construir templos. Embora apenas uma pequena percentagem de cristãos ex-muçulmanos enfrente violência física, todavia essas famílias abusam verbal e psicologicamente dos familiares cristãos e isolam-nos.
Em 2020 o governador de Jacarta, um cristão, foi condenado a dois anos de prisão por blasfémia, um expediente utilizado em países de maioria muçulmana para perseguir os crentes de outras religiões. Ele ficou debaixo de fogo também devido ao facto de ter citado a Bíblia e fazer menção da sua fé nos discursos.
O caso parece ter minado a imagem moderada do país e comprovado que um cidadão pode ser altamente prejudicado na sua carreira devido a pertencer a uma minoria religiosa, e justifica o facto de muitos cristãos não assumirem publicamente a sua fé fingindo continuar a ser muçulmanos. O governador recorreu da sentença argumentando que as pessoas estavam a ser enganadas ao acreditar que, em democracia, o Corão proíbe os muçulmanos de votar em não muçulmanos. Como se vê, nem sempre a perseguição é aberta e assumida mas nem por isso deixa de ser menos penalizadora.
A Indonésia é uma antiga colónia holandesa, mas Portugal tinha algumas possessões na região. Jacarta, a capital do país, antiga Batávia, tem uma história de ligação à fé cristã, tanto católica como protestante. O português que primeiro traduziu a Bíblia para a língua de Camões, João Ferreira de Almeida, converteu-se à fé reformada na Holanda e foi ordenado ministro do Evangelho antes de rumar às Índias Ocidentais. Essa tradução foi a obra da sua vida e ainda hoje é amplamente utilizada nas igrejas protestantes dos países de língua portuguesa e nas comunidades de emigrantes por todo o mundo, mesmo com adaptações e as inevitáveis actualizações linguísticas.
Aliás, as traduções mais antigas das Escrituras para a língua de Camões foram feitas no Oriente. As sementes que o português e pastor protestante deixou em toda aquela região não morreram e ainda germinam mais de três séculos depois.
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