Quando o ex-Presidente norte-americano Al Gore esteve no Porto, há dois anos, a falar na conferência Climate Changes Leadership, trouxe consigo vários vídeos e imagens de cenários devastadores de cheias, chuvas intensas, secas extremas e dias de calor fora do vulgar. Segundo o Prémio Nobel da Paz, as imagens serviam para mostrar o preço que será pago devido às alterações climáticas. Nos últimos dias, imagens muito parecidas com as divulgadas por Al Gore estão a encher páginas de jornais de todo o mundo, para noticiar as chuvas e cheias devastadoras que inundaram o Centro da Europa. Na Alemanha, Bélgica, Suíça e Luxemburgo a água varreu várias localidades e as fotografias revelam a destruição e os estragos causados pelas chuvas inesperadas em pleno verão. Alemanha e Bélgica já contabilizam 190 mortos e alguns especialistas e governantes, como a própria ministra do Ambiente alemã, culpam as alterações climáticas por estes desastres naturais. Aliás, no domingo, Angela Merkel, que visitou a zona mais atingida pela catástrofe, e depois de descrever a situação como aterrorizante, confessou: “Temos de aumentar o ritmo de combate às alterações climáticas.”
Mas, entretanto, o jornal The Sunday Times veio garantir que o governo tinha sido avisado do fenómeno meteorológico e das consequentes cheias e que os cientistas dizem que o alerta se perdeu. Segundo vários jornais internacionais, no início da semana chegou a ser emitido um aviso de inundações “extremas” pelo Sistema Europeu de Sensibilização para as Inundações (EFAS). E a hidrologista Hannah Cloke, citada pelo jornal Politico, considerou que esta catástrofe foi “uma falha monumental do sistema”. Para a especialista, a prova de que o aviso não chegou às populações foram as imagens que viu: “A visão de pessoas a conduzir ou a vaguear pelas águas profundas de uma inundação enche-me de horror, pois trata-se da coisa mais perigosa que se pode fazer numa inundação.”