Iniciada em 28 de dezembro passado, a campanha de vacinação contra a Covid começou, desde março, a evidenciar o seu impacte positivo na redução do número de infetados e, sobretudo, na redução drástica da mortalidade.
O plano de vacinação arrancou com um desenho muito discutível, titubeante e com vários incidentes de percurso, o que provocou inversão de prioridades face ao risco, morosidade no contacto com os utentes e um sem número de abusos absolutamente condenáveis. Acresceu a tudo isto o atraso da indústria farmacêutica na entrega das vacinas, provocando uma lentidão em todo o processo e alguma confusão e insegurança na opinião pública.
Os tempos parecem estar hoje mais de feição e os resultados que se foram acumulando ao longo dos dois últimos meses são disso prova evidente. Se em finais de fevereiro tínhamos apenas 6% da população com a primeira dose da vacina administrada, um mês depois esse valor passou para 12% e atualmente está nos 20%. Quanto à vacinação completa, passamos de 3% da população vacinada em fevereiro para 7% na atualidade. São progressos assinaláveis que se tornam ainda mais evidentes quando analisamos os grupos prioritários.
Convém assinalar que a política de vacinação se foi modificando ao longo do processo, sendo hoje claro e irrefutável que os grupos prioritários são constituídos pelas pessoas que correm mais riscos de doença grave e fatal. E esses são os mais idosos, sobretudo os que têm mais de 80 anos. A Comissão de Coordenação Nacional tardou a entender e a seguir esta opção, mas felizmente, a partir de março e numa perspetiva de vacinação massiva, seguiu, e bem, este caminho.
Os bons resultados são hoje inquestionáveis, pelas razões que a seguir se apresentam:
- A cobertura vacinal da faixa etária acima dos 80 anos saltou de 34%, com uma dose, no fim de fevereiro, para 80% no final de março e 91% atualmente. E a vacinação completa passou de 9% em fevereiro para 33% em finais de março e 58% atualmente;
- O efeito protetor desta vacinação alargada traduziu-se na diminuição significativa do número de infetados em geral, com o concurso simultâneo das medidas de confinamento determinadas em meados de janeiro, fazendo com que passássemos de mais de 300 mil novos infetados nesse mês (aproximadamente 10 mil por dia) para cerca de 17 mil em março (550 por dia) e cerca de 11 mil até 22 de abril (500 por dia);
- Na faixa etária acima dos 80 anos, entre janeiro e março, a redução mensal de novos casos foi de aproximadamente 95% e se considerarmos já o mês de abril essa redução está próxima dos 97%;
- A taxa de letalidade do vírus, no pico relativo dos óbitos, tomando em conta os casos ocorridos em fevereiro, foi de 4,5%, em termos gerais, e foi de cerca de 30% entre os novos infetados com mais de 80 anos. Em março e abril essa taxa desceu acentuadamente, sendo hoje apenas de 0,96% em termos gerais e de cerca de 9% na faixa etária acima dos 80 anos. Tivemos uma média de 120 óbitos por dia, por Covid, entre a população com mais de 80 anos no mês de janeiro, valor que se reduziu drasticamente em março (9 óbitos por dia) e mais ainda em abril (2,5 óbitos por dia);
- Os óbitos na faixa etária acima dos 80 anos representaram, em janeiro, 67%, dos óbitos totais por Covid, baixando para 55% em março e 48% em abril.
Da leitura destes dados podemos desde já, e com uma forte margem de segurança, retirar algumas ilações para o futuro:
- A vacinação é a única arma eficaz contra a Covid e está a beneficiar extraordinariamente as populações mais vulneráveis;
- Ao considerarmos prioritário para a vacinação o grupo etário dos mais velhos, fizemos com que o número de infetados e de óbitos começasse a cair drasticamente a partir de março;
- As consequências desta nova realidade e o caráter irreversível da vacinação alteraram drasticamente o impacto do vírus, com menos infetados, menos necessidade de utilização dos serviços hospitalares, menor gravidade dos casos e muito menos óbitos;
- A hipótese de uma 4ª vaga, possível nas próximas semanas à medida que os resultados do desconfinamento produzem mais interação entre as pessoas, terá sempre um impacto mitigado e mais controlável, quer no trabalho hospitalar quer, sobretudo, na ocorrência de casos fatais.
Para aqueles que põem em causa as vacinas contra a Covid, que duvidam da sua eficácia ou questionam a sua segurança, a evidência destes dados será suficiente para se convencerem dos enormes e inestimáveis benefícios deste processo? Esperemos bem que sim, porque são mesmo as vacinas a única solução para nos livrarmos, sem grande sofrimento e depressa, deste flagelo. E isso poderá ocorrer já neste verão. Vacine-se, pois!