Luís Marques Mendes chama-lhe o “Euromilhões da política” e Manuela Ferreira Leite considera-o a forma ideal de o PSD mostrar a António Costa que há “alternativas a uma governação de esquerda”. Já Paula Teixeira Pinto garante que ele limita o PSD, Jorge Moreira da Silva classifica-o como xenófobo e Rui Machete teme que possa prejudicar o resultado do partido nas próximas eleições.
A forma como vários sociais-democratas falam do Chega, e do acordo feito nos Açores com o PSD depois das regionais, torna clara a divisão que se instalou no partido liderado por Rui Rio.
Aliás, o antigo vice de Passos Coelho, Jorge Moreira da Silva, num artigo que escreveu no jornal Público, veio já pedir a realização de um congresso extraordinário para o partido clarificar as posições e a estratégia. Uma ideia que não tardou a ser apoiada por outros, como foi o caso da antiga ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz. “Não só é necessária uma clarificação face ao que ocorreu nos Açores, como é necessária uma clarificação sobre o que se nos depara no continente”, disse. Até porque, garantiu Marques Mendes, está instalada a perceção “de que um acordo com o Chega se pode repetir no plano nacional”. Mas, enquanto se somavam críticas internas a Rui Rio, o seu antigo adversário na corrida à liderança, Miguel Pinto Luz, saiu em defesa do acordo com o partido de André Ventura e colocou na mesa os argumentos dos que aprovam o caminho: se o PS pode aliar-se com a “esquerda radical”, não faz sentido que o PSD se “autolimite” e abdique da capacidade de congregar forças políticas; os sociais-democratas que criticam a ideia estão a propagar o discurso do adversário e não há razão para surpresa, pois o tema das alianças com André Ventura foi discutido pelo próprio Rui Rio quando este foi eleito para liderar o partido.
Na época, em janeiro de 2020, o Chega tinha acabado de conseguir um lugar no Parlamento, na sequência das legislativas de outubro de 2019. E Rui Rio, numa entrevista que deu à TSF nas vésperas das eleições internas, pensava assim: “O Chega é muito jovem, só tem um deputado, é muito difícil perceber o que vai ser dentro de um ano ou dois. Acho que é um bocadinho exagerado classificarmos o Chega de fascista ou de extrema-direita. Tem algumas posições extremistas e de perfil populista, se forem ganhando peso no Chega não será possível entendimentos com o PSD, se se forem moderando penso que sim.”
(Opinião publicada na VISÃO 1446 de 19 de novembro)