OPS cometeu, durante décadas, o enorme erro de se fechar à sua esquerda, afastando à partida qualquer hipótese de acordo com o PCP. Inclusive ao nível autárquico – com a única exceção, graças a Jorge Sampaio, da coligação com os comunistas nas eleições para a Câmara Municipal de Lisboa de 1989. E só por ter havido essa coligação, a esquerda e Sampaio venceram a Aliança Democrática (PSD/CDS/PPM), que há dez anos governava a autarquia e cujo candidato a Presidente era Marcelo Rebelo de Sousa.
Pois nem esta experiência de sucesso mudou a situação. Manteve-se o nada democrático princípio de “arco da governação” (PS, PSD e CDS), com o PCP numa espécie de “gueto”. Que só o PRD, em 1985, combateu, tendo com os comunistas a mesma (boa) relação do que com os outros partidos parlamentares. Por isso teria sido possível um governo PS, viabilizado por PRD e PCP, após a moção de censura ao executivo de Cavaco Silva – não fora a falta de coragem do líder do PS, Vítor Constâncio, face à posição do então Presidente Mário Soares, que se tornou o principal responsável pelo subsequente longo consulado de Cavaco.
Durante anos critiquei tal posição do PS. Sem ignorar os seus antecedentes históricos e as semelhantes responsabilidades do PCP. Posição prejudicial para o partido, que deixava de ser charneira e o único apto a fazer acordos diversificados e para o País. Entretanto surgiu o Bloco de Esquerda, o que tornou ainda mais absurdo aquele dogma dos partidos do “arco da governação”, com outros dele necessariamente excluídos sem fundado motivo para isso.
Como se sabe, após António Costa na campanha eleitoral de 2015 já se ter manifestado contra o dito “arco”, aquela velha e relha posição do PS foi revogada com a celebração dos acordos que levaram à viabilização do seu governo e à estabilidade política durante toda a anterior legislatura, na qual o País avançou/melhorou muito em vários aspetos. E, apesar de na atual não ter sido possível reeditar tais acordos, Costa e o PS manifestaram a sua preferência por um cenário semelhante. O que também julgo ser o melhor, mas exige alguma formalização, não apenas discursos e intenções piedosas.
O meu ponto, porém, agora é outro. Sem prejuízo de tal orientação e estratégia, o PS, afirmando-se claramente de esquerda, centro-esquerda, não deve, não pode, cometer um erro semelhante àquele, de décadas, embora de sinal contrário. Ou seja: fechar-se à sua direita (ao PSD), como antes se fechou à esquerda (ao PCP). E a verdade é que Costa – malgrado a minha convicção não ser esse o seu intento e fazê-lo só por razões táticas – demasiadas vezes, nos últimos tempos, proferiu afirmações e teve comportamentos, inclusive no Parlamento, que parecem apontar nesse sentido. No que tem sido seguido por alguns seus camaradas, como Pedro Nuno Santos na entrevista à VISÃO que referi no último comentário e a que, por isso, disse que voltaria.
Um tema em relação ao qual há uma certeza: a necessidade para o País de PS e PSD terem um saudável diálogo e relacionamento democráticos, procurarem consensos sobre grandes questões nacionais, não afastarem como definitivamente impossíveis soluções hoje indesejáveis mas que no futuro podem ser inevitáveis.