1. É óbvio que o PS foi o claro vencedor das legislativas de 6 de outubro. E, no entanto, essa vitória: a) ficou aquém das expectativas, confirmadas ou reforçadas pelas sondagens que o colocavam pelo menos à beira da maioria absoluta; b) e ficou aquém até do que seria natural, tendo em conta os muito bons resultados da sua governação e o êxito da Geringonça, que Passos Coelho afirmava conduziria o País para o abismo. Com o PSD, aconteceu exatamente o contrário… Isto é: perdeu mas ficou além do que há poucas semanas as sondagens lhe atribuíam.
Isto quer dizer que a campanha contra a maioria absoluta produziu efeitos e o PSD terá sido o seu principal beneficiário, seguido do PAN – pois os scores de BE, CDU e Livre estiveram dentro das previsões, o da CDU até um pouco abaixo. E se tal aconteceu foi por o PSD ter a liderá-lo Rui Rio, com um perfil diferente (embora soçobrando no caso Tancos…), uma orientação mais ao centro e aberta ao diálogo do que os seus antecessores.
Quanto à base de sustentação do próximo governo, creio que, não sendo fácil, seria preferível um acordo escrito, que o BE se dispunha a subscrever, garantindo estabilidade para toda a legislatura. Terão as “exigências” dos bloquistas sido inaceitáveis para o PS? Não sei. Sei que não pode ser argumento contra um acordo o PCP/PEV, o Livre e até o PAN não se mostrarem disponíveis para o mesmo. E sei de indiscutível interesse nacional, em particular numa situação como a que se prefigura, haver diálogo e possibilidade de acordos entre os principais partidos.
2. Ora, Luís Montenegro, não tendo antes conseguido apear Rio, como tentou, pôs-lhe no caderno de encargos, para se manter líder, ganhar umas eleições que já se sabia ele não poder ganhar. Agora já se anunciou candidato a substituí-lo, apresentando como um dos seus trunfos não admitir fazer acordos com o PS, o que define os seus objetivos e o seu perfil cívico. No seu combate a Rio usou também outro argumento extraordinário: “Ele não gosta do PSD.” E, claro, propõe situar o PSD mais à direita, talvez orgulhosamente à direita, como se o “mau resultado” de 6 de outubro tivesse sido consequência da posição mais centrista de Rio.
Mas, se assim fosse, o PSD teria perdido votos para a direita. Ora, à direita, o CDS de Cristas foi o partido que de longe teve a maior queda, sendo o seu posicionamento o que de certo modo Montenegro desejava e promete… Quanto a Santana Lopes, o opositor de Rio no último Congresso, nem sequer conseguiu ser eleito. Eleito foi André Ventura, agora líder do “ultra” Chega, que também era do PSD e pelo PSD foi até candidato a uma grande autarquia, quando Montenegro era destacado dirigente do partido e seu líder parlamentar. Chega?
Tudo isto significa que se o PSD tivesse como líder Montenegro (ou Santana), o seu resultado teria sido bem pior do que foi. E para o partido será decerto desastroso seguir uma orientação e condutas como as por ele preconizadas. A democracia e o País precisam também de uma oposição ou de oposições fortes, de vários quadrantes, capazes de dialogar, procurar consensos e fazer acordos no interesse nacional.