Todos os políticos dizem sobrepor o interesse nacional aos interesses pessoais e partidários. E todos os cidadãos sabem que, com as (muitas?) exceções que confirmam a regra, isso em geral não corresponde à realidade. Embora em muitos aspetos seja diferente o que para cada um constitui o interesse nacional, alguns há em que sobre ele não pode deixar de haver acordo. É o caso de só face aos resultados das eleições legislativas poder avaliar-se qual o governo possível para melhor conduzir os destinos do País. Face aos resultados e, não havendo uma maioria absoluta, aos programas dos partidos que o podem vir a integrar ou viabilizar, e aos acordos, com as necessárias cedências mútuas, que para o efeito estejam dispostos a fazer.
Assim, ficando-me pelos dois maiores partidos, e os partidos “centrais”, PS e PSD, qualquer um deles afirmar que nunca integrará um governo com o outro, ou, pior, nunca viabilizará um governo do outro, será flagrantemente contra o interesse nacional. Será, notoriamente, num tempo pré-eleitoral em que tais “pecados” abundam, colocar acima do interesse nacional o que entendem favorecer eleitoralmente o partido e/ou ser-lhes imposto por dominantes cliques internas. Este poderá ser o caso de Rui Rio, que continua sujeito, agora de modo mais disfarçado, a grandes pressões/ataques de dentro do seu próprio partido – e até com dirigentes tidos como seus apoiantes a dizerem o disparate, destinado a apeá-lo após as próximas legislativas, que só por “incompetência” o PSD não as vencerá…
O que salientei não significa que os dois partidos não devam clarificar previamente a sua orientação e a sua preferência em matéria de alianças. Pelo contrário, devem fazê-lo. Mas sem excluir em absoluto o que o dito interesse nacional pode vir a exigir. Sob pena de o negarem – ou de negarem o que antes prometeram ou afirmaram, coisa aliás muito comum nas campanhas eleitorais. Um dos méritos de António Costa nas legislativas de 2015 foi o de acabar com o velho e errado princípio do PS de não fazer acordos à esquerda; foi afastar, mesmo condenar, de forma inequívoca, a ideia de “arco do poder”, partidos do “arco da governação”, assim permitindo, com inteira coerência e sem nada se contradizer, celebrar os acordos com BE, PCP e PEV que sustentaram a atual solução governativa. Dados, além do mais, os bons resultados em geral com esta solução conseguidos, é natural, e aconselhável, que Costa defina como objetivo repeti-la – caso, como mais provável, não tenha a maioria absoluta que não deve pedir… Repeti-la, com as modificações necessárias. Sem, no entanto, excluir em definitivo outras hipóteses. E também é natural, mais não seja pela sua frágil posição no partido que com Passos Coelho teve uma enorme deriva direitista, que Rio privilegie uma aliança com o CDS, não obstante a forma como Cristas o tem tentado “encravar”. Sem, por igual, excluir outras hipóteses. O cidadão que escreve estas linhas também prefere, neste momento e em abstrato, uma solução na linha da atual. Sem poder garantir que os resultados eleitorais de outubro e suas consequências não venham a aconselhar ou mesmo a impor outra diferente.