Como em todas as atividades, as pessoas que participam numa determinada área tendem a fechar-se num pequeno universo de códigos e de sinais, que pouco ou nada diz a outras pessoas. A mediação, que jornalistas, comentadores e demais personagens ativos no espaço público fazem, não foge a esse fenómeno. Achamos que determinada atuação deste ou daquele ator político é gravíssima, que as pessoas vão revoltar-se com isto ou aquilo, juramos que este ou aquele partido, órgão de soberania ou simplesmente aquele político vão ser penalizados pela opinião pública, e depois ou não é bem assim ou é completamente diferente do que achamos que ia acontecer e que solenemente declaramos.
Ainda na semana passada aqui escrevi sobre a diferença de perceção entre a chamada bolha mediática e a opinião pública que uma sondagem revelou. No fundo, um dos desafios de quem faz o que eu faço é tentar que o mundo desta área não se sobreponha aos outros em que também se vive, ou seja não cometer o erro de que tantas vezes acusamos os políticos: perder o contacto com a realidade. Que o mundo de quem lê os jornais, dos outros colunistas, daqueles que conversam com políticos e falam diariamente destes assuntos não afete o nosso contacto com quem tem outras vidas. Pessoas que reagem sobretudo por aquilo que, de bom ou de mau, a atividade política traz às suas vidas e que têm a perceção de ver os seus valores morais, éticos e políticos promovidos ou violados.