2020 foi sem dúvida um ano de ansiedade para os emigrantes portugueses por todo o mundo que, acostumados a voar de volta a casa com alguma regularidade dadas as vantagens do mundo moderno em que vivemos, viram muitos voos cancelados e se perguntam como será no futuro esta proximidade que se tinha como garantida. Houve muitos outros temas que pesaram na equação de quem decidiu ir viver para fora, e há muito a ter em consideração daqui para a frente no que toca a construir um futuro mais sólido para esta relação que temos com o que deixamos longe. É nestas situações que é importante ter uma comunidade aconchegante e uma embaixada preocupada. Depois de mais de seis anos temporariamente encerrada, a Embaixada de Portugal na Eslovénia volta a ter representação diplomática, ainda que limitada à gestão da dupla Presidência da União Europeia pela Eslovénia e por Portugal durante 2021, o que dará um novo fôlego à Portugalidade e até à Lusofonia na Eslovénia. Estamos todos muito entusiasmados por cá com esta nova proximidade com Portugal e haverá muito a aprender e a construir para que juntos possamos aproveitar esta oportunidade que 2021 nos trouxe para fazer um futuro melhor aos que por cá vão ficando.

No primeiro encontro com a Comunidade Portuguesa na Eslovénia, a Dr.ª Luísa Pais Lowe falou um pouco de si e das suas responsabilidades para preparar os desafios de 2021, mostrando disponibilidade e vontade de integrar a Comunidade e as suas dinâmicas próprias, surpreendendo os demais presentes quando facilmente partilhou o seu contacto na Língua Eslovena.
A missão Portuguesa na Eslovénia será cumprida pela Encarregada de Negócios Pais Lowe, que conhece bem a Eslovénia e até a região. Para além de várias outras colocações na Alemanha e nos Estados Unidos, foi Representante Permanente Adjunta de Portugal na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, entre 2001 e 2005, desempenhou funções de apoio à reabilitação pós-conflito em vários países da ex-Jugoslávia pouco depois dos conflitos armados que se fizeram sentir nos anos 90. É de louvar o esforço que o Estado Português está a fazer, em plena pandemia e suas consequências, para ter uma presença diplomática em Liubliana, não apenas para preparar, mas para executar localmente a Presidência Portuguesa do Conselho da UE no 1º semestre de 2021 e para acompanhar a Presidência eslovena no 2º semestre. É uma verdadeiro sinal do empenho e compromisso das nossas autoridades para com a cooperação entre Portugal e a Eslovénia no âmbito das respetivas Presidências, o que só pode produzir bons resultados para ambas as partes, portugueses e luso-eslovenos incluídos.

Luísa Pais Lowe chegou a Liubliana em outubro, depois de fazer mais de dois mil quilómetros de automóvel de Lisboa para evitar ao máximo o contacto com o coronavírus. E desde logo se mostrou disponível para se encontrar com a Comunidade Portuguesa, o que teve que acontecer por teleconferência nesta fase de confinamento, mas que se espera dentro em breve repetir pessoalmente. Falou um pouco de si e das suas responsabilidades para preparar os desafios de 2021, mostrando disponibilidade e vontade de integrar a Comunidade e as suas dinâmicas próprias. Que contem com ela para o que for preciso, surpreendendo os demais presentes quando facilmente partilhou o seu contacto na língua eslovena. O prometido encontro físico entre a diplomata portuguesa e a Comunidade tem sido recorrentemente adiado devido ao agravamento da pandemia na Eslovénia e às estritas restrições impostas como medidas de segurança. Há expectativa entre a comunidade de que este ano que chega traga oportunidades para construir novas pontes entre a Eslovénia e Portugal que fiquem como vantagens mesmo depois das presidências terminarem. Há muita coisa a fazer e repensar, e com certeza que a vontade de que aconteça não chega.

A nova representação diplomática portuguesa na Eslovénia não foi dotada de competências consulares, pelo que poderá prestar um apoio por definição limitado à Comunidade Portuguesa na Eslovénia, mas há alguma esperança que esta tenha algum impacto positivo em 2021. A Revista Sardinha tem dado voz a algumas destas preocupações e expectativas, onde a mais recente foi o inquérito nas redes sociais acerca do que nos faz mais falta por cá que possa ser melhorado. A representação diplomática permanente na Eslovénia é a vontade da maioria dos Portugueses que cá vivem e a quem custa a grande distância a Viena que é a localização do Consulado Português responsável pelos cidadãos portugueses residentes neste país (um tema recorrente que volta à ordem do dia com a limitada votação para a Presidência Portuguesa). Logo a seguir vem o acesso ao bacalhau salgado português, que é na maior parte dos casos enviado por correio por familiares e que podia talvez ter cá algum ponto de venda. Ainda entre as prioridades estão o apoio (mediação e esclarecimento) na obtenção de documentação eslovena e as medidas de apoio ao Emigrante Português na Eslovénia. Segue-se a necessidade de ter uma melhor oferta cultural em Língua Portuguesa, assim como o apoio à educação das crianças bilingue luso-eslovenas.

A Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, com o mote “Tempo de agir: por uma recuperação justa, verde e digital”, deixa a expectativa de um esforço global na recuperação de uma Europa abatida pela pandemia. Irei acompanhá-la de perto aqui nesta rubrica e com as minhas contribuições mensais à Revista Comunidades Lusófonas, que tem feito um excelente trabalho no apoio à Diáspora Portuguesa espalhada por todo o mundo, e com quem a minha Revista Sardinha tem vindo a colaborar há já algum tempo. A edição deste mês traz um artigo entusiasmante da autoria de Luísa Pais Lowe acerca deste “ano Luso-Esloveno” que irá ser marcante pelos desafios que se avizinham, pelas oportunidades de fortalecer as relações entre os dois países e a experiência de quem vive essa constante comunhão entre as duas culturas e cidadanias. Temos muito a aprender tanto com as diferenças como com as semelhanças a que tenho tentado dar a exposição apropriada nestas contribuições à Revista Visão. A presidência eslovena do Conselho da UE, que se irá transferir de Portugal no final de junho com uma viagem de comboio entre as duas capitais, irá assentar também nas prioridades de Europa verde, segura e com forte legislação. Ainda não são conhecidas em detalhe as prioridades eslovenas para a sua Presidência, mas deverão complementar o trabalho feito no primeiro semestre de 2021.

Para além dos acontecimentos a nível Europeu, que irão impactar todos os Estados Membros, Portugal irá celebrar esta presidência da UE um pouco por toda a Europa. Haverá com certeza várias boas surpresas a acontecer também em Liubliana, a julgar pelos excelentes projetos recentemente submetidos ao Instituto Camões que visam dar consistência às diversas iniciativas que têm vindo a destacar a Eslovénia relativamente à promoção da Língua e Cultura Portuguesa. As iniciativas são da autoria das diversas entidades luso-eslovenas que, na sua maior parte são trabalho voluntário dos seus intervenientes, para que a Língua e Cultura Portuguesas estejam bem vivas deste lado da Europa que tanto as aprecia. O Fado tem destaque nas celebrações da nossa presidência à UE, o que aliás se mostrou ainda esta semana com um grande espetáculo inaugural da Presidência Portuguesa do Conselho da UE, com alguns dos nossos maiores fadistas acompanhados pela Orquestra Sinfónica Portuguesa em homenagem a Amália Rodrigues e a Carlos do Carmo, figuras incontornáveis da cultura portuguesa e internacional. É neste contexto que o Instituto Camões apoia também o espetáculo de Lina e Refree em Barcelona, e que também passará pela sala de espetáculos Cankarjev Dom em Liubliana a 5 de março e que já tem lotação quase esgotada.
Um dos projetos culturais que está a ser preparado pela Revista Sardinha e seus colaboradores vem precisamente no sentido de celebrar a dupla presidência da UE, portuguesa e eslovena, em 2021 através do Fado e dos poetas. É uma iniciativa ambiciosa que quer celebrar o facto de que em ambos os países os poetas são os heróis e personificam as estátuas das praças de ambas as capitais europeias, Lisboa e Liubliana. Está planeada acontecer em Liubliana em maio, para celebrar o Dia Internacional da Língua Portuguesa, e em outubro em Lisboa, com o apoio da representação diplomática eslovena em Lisboa e do leitorado esloveno na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O quarteto Mascara da fadista eslovena Polona Udović será anfitrião na capital Eslovena, para receber o guitarrista português Luís Coelho que irá mostrar ao público esloveno a magia da guitarra portuguesa, e que irá contracenar com o quarteto ao qual falta esse importante instrumento do Fado. Irá também acompanhar a fadista Maja Milinković que veio trazer a Alfama o Sevdah que também é por vezes conhecido como »Fado Bósnio« e que com o Fado partilha a celebração da Saudade. Maja será a anfitriã em Lisboa para um espetáculo em vários locais emblemáticos onde se irão cantar os poetas. Ambos os eventos irão ter uma contraparte de apresentação cultural e literária para dar às audiências o contexto importante de um ponto comum entre as nossas culturas.
Para apoiar este evento, a Revista Sardinha, em colaboração com a empresa de logística eslovena Eurosender, lançou uma campanha promocional para ajudar as famílias a enviar e receber prendas durante o Natal. A participação nesta campanha reverte no apoio ao evento de celebração do Fado na Eslovénia planeado para maio. Tendo em conta as restrições que se estão a fazer sentir um pouco por toda a Europa, decidimos estender esta campanha até ao final de maio para envios entre os três países da tripla presidência Europeia: Alemanha, Eslovénia e Portugal (Apoie aqui a campanha!). Esperamos assim ajudar mais pessoas nestes tempos difíceis de limitações impostas, para que pelo menos não nos faltem os miminhos da família. Sem dúvida uma boa oportunidade para quem queira trazer bacalhau de Portugal para a Eslovénia, o que já confirmámos fazer bastante falta por cá.