Embora exista uma versão para o ocidente – muito limitada e super inflacionada – não se pode comparar o Taobao daí para o Taobao daqui.
Deste lado do mundo, o Taobao não é só uma aplicação para os nossos telemóveis, não é só uma loja online, não é uma lojinha chinesa – conceito muito europeu – não é só revenda, imitação ou originais. O Taobao é possivelmente a materialização das relações neurológicas de um chinês. É mais do que isso. É um mundo. Permitam-me o exagero: o Taobao é O mundo!
Mas vamos fazer um exercício simples para que todos possam perceber. Para quem nunca soube da existência do Taobao não é fácil ter percepção da sua dimensão e dinâmica. Mas lá chegaremos.
Coloquem-se me posição confortável e permitam-se viajar comigo. Agora, confortáveis, imaginem uma aplicação móvel que vos disponibiliza o que a vossa imaginação quiser criar. Sim o que quiserem. Um móvel para a sala? O Taobao tem. Milhares. Do Ikea? Também. Imitação perfeita? Também lá está. Ah, querem um relógio? Daquela marca? Sim, também está. Vários modelos, vários preços. Qual é a cor? Sim, também. Comida? Também, pois claro. Hmm…digam mais, o Taobao está preparado para vos surpreender.
Máquina para medir a tensão arterial? Sim. Andaimes? Sim. Carros? Sim. Colchões? De todas as formas e feitios. Impressoras? Tecnologia avançada? TUDO. Medicamentos? Com ou sem receita médica! Já vos disse, tudo. Botox? Também.
Garanto-vos. A lista é infindável. Carros de colecção? Pequenos ou grandes, não importa. Presentes personalizados? Querem o quê? Canecas? Aventais? Mil e uma caixas de fotografias? E bolos de aniversário? Também (mas não garanto que cheguem em boas condições). Vestidos de noiva. Jóias, difusores de óleos essenciais… os óleos, pianos, adereços para qualquer festa, livros, jogos, disfarces para o carnaval, brinquedos, cortinas à medida…. Sem fugir da seriedade da questão: até órgãos humanos já colocaram à venda.
Imaginem. Se existe está no Taobao. Se não existe, os “Senhores do Taobao”, como gosto de dizer, estão a tratar disso.
Ups, já comprei!
O Taobao é um caminho sem retorno. Uma vez instalada a aplicação, não há nada a fazer. Pode tornar-se um vício difícil de combater. É preciso garantir doses de utilização moderada. Caso contrário vemo-nos em compras compulsivas. Por ser barato, prático e tão espectacular.
É fascinante. Tão fascinante que vários amigos – a viver em Portugal – já me mandam mensagem com um “podes ver se há isto no Taobao?”. Ninguém lhe resiste.
Quando cheguei a Macau as compras no Taobao estavam limitadas a portadores de conta bancária e número de telemóvel da China – pelo menos, assim fui informada – no entanto, esse obstáculo foi contornado, e para além de conseguirmos criar uma conta, várias empresas, sediadas em Macau, tratam de toda a logística das entregas. É o sonho.
Está ainda por faltar a tradução da aplicação para inglês, mas não me parece que esteja nos planos. O que, vendo pelo lado positivo, até me tem ajudado com o meu básico e quase inexistente chinês. Eu disse, o Taobao é um mundo.
Um mundo extraordinário
Mas, em tom mais sério, não podemos negar a distância tecnológica que nos separa para com a Europa. Falando sempre, claro, com a leveza que a minha falta de conhecimento da área me permite. Certo é que nas minhas últimas viagens ao interior da China vi-me em situações de puro constrangimento. Andei durante horas, largas horas em busca de uma caixa de multibanco. Procurei – juntamente com um taxista – por um café, quiosque, restaurante que tivesse dinheiro físico na sua caixa registadora. Muitos, nem caixas tinham. As notas e as moedas são quase inexistentes. Tudo se paga através do QRcode. Tudo. E em muitos sítios – embora seja ilegal não aceitar dinheiro físico – ninguém me conseguia ajudar por não existir troco. Senti-me como alguém que viajou no tempo. Alguém que veio de um “há muitos, muitos anos…” munida com notas e moedas para um mundo que me olha em jeito estranho. Para um mundo que na testa tem escrito: de onde é que saiu esta tipa!?
O COO, Lucas Marques escreveu este texto que merece ser lido e partilhado. Lucas fala sobre o 1% que conheceu da China e relata uma realidade muitas vezes desconhecida – e, aqui entre nós, altamente surpreendente.
Por Macau, embora grande parte dos locais já aceitem pagamentos por QRcode, as pataquinhas continuam a circular. Mas, em jeito de confissão, a verdade é que a tendência é de nos tornarmos cada vez mais parecidos com o outro lado da fronteira. Se é que me entendem.
Enquanto isso não acontece, vamos assistindo boquiabertos a um mundo que se desenvolve cada vez mais rápido, desejando que a evolução aconteça com um único propósito: para o bem de todos nós.