Em terra alpina como é a Eslovénia, a época da neve é muito importante para a maior parte da população. De tal forma que no início de Fevereiro as crianças (e consequentemente os pais) têm uma semana de férias de inverno para se dedicarem aos vários desportos de Inverno. Estes vão desde o ski alpino ou o snowboard, à corrida na neve com skis em terra plana, escalada de cataratas geladas, skating nos lagos gelados, andar de trenó, etc. Dos mais novos aos mais velhos todos estão de certa forma ligados a esta tradição da neve que nos é tão exótica, muito porque em Portugal pouco neva.
E quando se diz novos, estamos a falar de infantários de ski que recebem crianças a partir dos três anos. E todos sabem que as crianças, por não terem medos nem pensarem demais, aprendem a esquiar muito mais rápido que os adultos. Mas ir para a neve também inclui o convívio, a comida de montanha nos pequenos restaurantes de madeira típicos das alturas, e apanhar sol. Sim, como se passam semanas com dia nubelado não podemos esperar pelo fim-de-semana para subir a uma qualquer montanha, com o trenó e as botas da neve no porta- bagagem onde aliás passam o inverno. E nem é preciso ter carro pois em meia hora de autocarro público estamos na montanha nevada.
E não há dúvida que uma dos grandes eventos do ano é o campeonato do mundo de saltos de ski, que passa pela Eslovénia todos os anos no final de Março. É um dos desportos nacionais mais apreciados e onde a Eslovénia foi campeã em 2016 com a medalha de ouro de Peter Prevc, muito celebrada um pouco por todo o país. Este é um evento organizado pela Federação Internacional de Ski (FIS) que este ano decorreu de 22 a 25 de Março em Planica, a 5 km do conhecido resort Kranjska Gora. Devido à apertada estrada para chegar ao recinto (como aliás é típico das estradas de montanha) a organização disponibiliza viagens gratuitas de carrinha e autocarro. Aliás, há até quem faça estes cinco quilometros de helicóptero, por 60 euros por pessoa, e com uma vista de certeza fenomenal.
Embora este ano a Eslovénia não tenha tido tão bons resultados como em anos passados, o ambiente de festa que se vive no recinto é contagiante. O público chega da Polónia, Áustria e Alemanha, mas outros apoiantes chegam até do Japão, um dos fortes participantes neste campeonato mundial. Ao som da música tradicional Golica, tão ligada às tradições deste evento e destas gentes, as montanhas vibram nestes dias de euforia. A banda mais famosa e transversal a estes países alpinos, é o Ansamble Bratov Avsenik cuja tradição tem passado de geração para geração, e está hoje viva nas mãos do neto Sašo Avsenik.
E antes de terminar não posso deixar de lembrar o grande nome esloveno do esqui alpino Tina Maze, com uma brilhante carreira no slalom gigante (nomes que para muitos Portugueses dizem muito pouco por estarmos tão longe desta cultura da neve). Tina foi a eslovena que mais medalhas obteve nos jogos olímpicos de inverno (com quatro medalhas olímpicas) e vencedora de um total de 26 campeonatos mundiais. Não admira que seja um ícone nacional que mais uma vez traz as atenções estrangeiras à Eslovénia, que não tem grande Futebol (embora conte com futebolistas brilhantes como o nosso conhecido Zahović ou o Oblak), mas que também sabe apostar noutros desportos que não o desporto rei. E eis os resultados.
O ambiente de festa no recinto a quando os desportistas eslovenos se iniciam nos primeiros saltos deste último dia do campeonato do mundo.
O salto do esloveno Peter Prevc, campeão do mundo de salto de ski em 2016, visto da televisão da cabana de montanha, para ter uma ideia da dimensão do salto.