Aos que me conhecem não é novidade dizer que sou adepta fervorosa de datas comemorativas, sendo que o Natal e o meu aniversário ocupam o primeiro lugar da lista. (Confesso que o Ano Novo Chinês e o Festival da Lua têm ganho terreno nesta corrida.)
Como qualquer pessoa empenhada, a preparação para o dia (assinalado a vermelho no calendário da secretária meses antes), exige algum tempo. Amigos próximos acusam-me de começar a viver o Natal em Outubro. Confesso-me, embora adore o Outono e as suas cores, não nego que em Agosto surgem-me pensamentos como “daqui a nada estamos no Natal”.
Aniversariante no início do mês de Julho, começo, como não podia deixar de ser, a pensar no dia de soprar as velas um mês antes. Acontece que desde que vim viver para Macau o mês de Junho ganhou uma nova dinâmica e o meu aniversário foi perdendo alguma importância. Passo a explicar.
Num desafio lançado pela Revista Visão, nós, os portugueses “lá fora”, deveríamos descrever num parágrafo como se vive o 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Ora, optei por não participar porque dedicar apenas um parágrafo ao assunto seria pecaminoso. Em Macau não temos um dia para lembrar Portugal, nós festejamos o nosso país durante todo o mês de Junho. Sim, são 30 dias de actividades, lembranças e muita saudade.
A iniciativa, claro está, deve-se ao Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, contando com o apoio do Governo da RAEM. Efectivamente, no dia 10 de Junho, manda a tradição, depois do hastear da bandeira, rumar à Gruta de Camões. A devida homenagem é prestada ao poeta, que mesmo depois de mais de 400 anos passados da sua morte, continua a encher o nosso peito de orgulho, enaltecendo feitos antigos e atribuindo esperança aos dias que chegam. Camões deixou-nos isso, o orgulho de uma vez termos sido enormes e a esperança de o voltarmos a ser. Funciona com o país ou com cada um de nós, nas nossas conquistas e, principalmente, nos dias de tempestade.
O dia termina numa recepção aberta à comunidade na Residência Consular. (Inegavelmente uma das casas mais bonitas de Macau). Já todos conhecemos o percurso, é um facto, mas são poucos, muito poucos, ou que não marcam presença. As cerimónias até podiam ficar por aqui e nós, os portugueses, tínhamos feito a nossa parte, mas quis alguém que Junho fosse mais do que isso.
São concertos, exposições, lançamentos de livros, mostra de cinema português e até festivais de gastronomia que enchem as medidas a Macau no que diz respeito à memória do nosso país. O mês termina com a Festa de São João, organizada pela Casa de Portugal, onde o cheiro a sardinhas invade o Bairro de São Lázaro e as paredes ecoam música que nos fazem reviver o bailarico de verão.
Mas ninguém melhor que o próprio Cônsul-Geral de Portugal, Vítor Sereno, para explicar o que representa aquele que já é conhecido como o Mês de Portugal.
“O conceito “Junho – mês de Portugal na RAEM”, que lançámos em 2016, concretiza da melhor forma os propósitos de assinalar o nosso dia nacional e, nesse contexto, dar nota das excelentes relações do nosso país com a República Popular da China e a Região Administrativa Especial de Macau; de promover Portugal através de uma programação que alia qualidade, abrangência e impacto, beneficiando o nosso país e os nossos criadores, e, finalmente, contribuir para a preservação da matriz portuguesa como parte do património e da especificidade de Macau.
Ao mesmo tempo, Portugal sinaliza também, deste modo, o apoio às estratégias de diversificação em que está apostado o Executivo da RAEM e à afirmação de Macau como plataforma de ligação entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
Este ano, o Junho mês de Portugal, que voltou a ser organizado por este Consulado-Geral, juntamente com a Casa de Portugal, a Fundação Oriente e o IPOR, reuniu 20 eventos, dinamizando mais de dez espaços culturais e institucionais da RAEM, envolvendo mais de 30 artistas”.
O que o Cônsul-Geral de Portugal não sabe, ou esqueceu-se de mencionar aos leitores da Visão, é que o mês de Junho traz-nos o cheiro a casa, e para aqueles que tão longe estão, não há aconchego (ou presente de aniversário) melhor do que esse.